quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

HISTORIA DE XANGÔ E YANSÃ

HISTORIA DE XANGÔ E YANSÃ


Vamos conhecer agora a história de Xangô, um orixá bastante sedutor, que havia sido disputado por três mulheres: Oiá/Iansã, Oxum e Obá. Estas mulheres eram as únicas que mandavam nele, embora ele acreditasse que elas atendiam seus desejos.

Para compreender como Oiá e Xangô se apaixonaram é preciso retroceder um pouco no tempo e lembrar do primeiro casamento de Oiá com Ogum. Em certa ocasião, Ogum presenteou sua esposa com uma vara de Ferro, igual a sua, que tinha o poder de dividir os homens em sete partes e as mulheres em nove, quando tocados pela vara. Oiá acompanhava o marido em seus trabalhos. Xangô freqüentemente visitava Ogum para vê-lo moldar o ferro e, não raras vezes, lançava olhares de flerte para Oiá, que logo ficou encantada com a elegância deste homem, até que um dia fugiu com ele.

Furioso, Ogum perseguiu os amantes e quando os encontrou, ergueu sua vara mágica para atacá-los. A fim de se defender do bravo marido, Oiá ergueu sua vara ao mesmo tempo. Ambos se tocaram na mesma hora. Ogum foi dividido em sete partes e Oiá, em nove partes e passou a se chamar Iansã, que significa “mãe transformada em nove”. Depois disso, Iansã foi morar com Xangô.

Certo dia, cansada de viver com Xangô, e com ciúme do seu segundo casamento dele com Oxum, Iansã fugiu para as terras de Ogum e passou a viver com ele. Tempos depois, ela pediu para Ogum um presente e ele lhe deu uma espada.

Inconformado com a fuga de Iansã, Xangô saiu à sua procura, mas quando estava aproximando-se dela, Iansã fugiu para as terras de Oxóssi, com quem passou a viver. Depois de um tempo ela pediu ao novo marido um presente e ele envergou sua espada, que além de cortar passou a furar. Xangô continuou a procurar Iansã e, chegou próximo de onde ela morava. Novamente ela fugiu, agora para as terras de Omolu, com quem se casou. Omolu também deu um presente à Iansã, concedeu a ela o poder sobre os mortos. Com a aproximação de Xangô, que continuava a persegui-la, Iansã foi para as terras de Exu, de quem ganhou alguns feitiços. Sem mais lugar para fugir de seu marido, Iansã transformou-se em uma pedra. Cansado da perseguição, Xangô colocou os pés em cima da pedra (Iansã transformada) e disse: “Se meu coração tem de sofrer tanto por causa de uma mulher, é melhor que venha um raio e me parta ao meio!”. Então, o raio veio, mas atingiu a pedra, que teve seu encanto desfeito transformando Iansã em mulher novamente. Cansada, Iansã desistiu de fugir e voltou para casa com Xangô.

Uma outra história que envolve os amores de Xangô foi seu terceiro casamento, com Obá. Ela nasceu de uma relação incestuosa forçada por seu irmão Orugan com sua mãe Iemanjá. Antes de unir-se a Xangô, Obá foi casada com Ogum e Oxóssi. Vejamos como Obá e Xangô se conheceram.

Certo dia, Xangô encontrou Obá ajoelhada sob o sol forte, implorando aos orixás que enviassem chuva a seu povo. Comovido, Xangô atendeu ao pedido de Obá, que ficou apaixonada com sua atitude.

Apesar de mais velha, Obá era muito bonita e atraente e Xangô apaixonou-se por ela, levando-a para casa, tornando-a sua terceira esposa. Porém, o amor de Xangô por Obá foi como uma chuva de verão. Xangô, moço, cansou-se de sua terceira mulher e deixou-a de lado, dando preferência, principalmente, para Oxum, que era jovem.

Sentindo-se abandonada, Obá pediu ajuda para Oxum, na tentativa de reascender a paixão de Xangô por ela. Então, a ingênua Obá deixou-se iludir por Oxum, que lhe prometeu ensinar uma fórmula para reconquistar o amor do marido. Obá foi à casa de Oxum e viu que ela preparava uma sopa. Um belo turbante enfeitava a cabeça de Oxum, escondendo suas orelhas. Na panela, boiavam grandes cogumelos e Oxum disse a Obá que havia cortado as próprias orelhas para preparar aquele prato, capaz de conquistar o amor de Xangô. Obá acreditou e resolveu fazer o mesmo para Xangô.

No dia de cozinhar para o marido, Obá cortou uma de suas orelhas e preparou a sopa. Quando serviu a Xangô, percebeu o que havia feito, pois viu que Oxum tinha suas duas orelhas. Mutilada, Obá foi rejeitada por Xangô. Furiosa com o que lhe aconteceu, Obá foi tirar satisfação com Oxum. A briga entre elas foi tão feroz que Xangô precisou intervir. Com um grito forte como um trovão, as duas se assustaram de tal maneira que se transformaram em rios, o rio Obá e o rio Oxum, que em determinado ponto se encontram, formando uma pororoca, mostrando que a luta entre elas permanece até hoje.

Esta lenda africada é rica de paixão e envolvimento. Uma paixão claramente expressa, muito diferente do que vemos nas culturas ocidentais, que escondem ou disfarçam seus sentimentos amorosos. As mulheres são retratadas de uma forma bastante enriquecida, com personalidade forte, procurando fazer-se amar pelo homem eleito. Um amor que passa pelo respeito por si mesma, porém às vezes esse limite é ultrapassado e suas conseqüências vividas. Um amor que procura reciprocidade e, quando não encontra, é rejeitado. A expressão da insatisfação faz com que os amantes procurem, de alguma forma, lidar com o fracasso amoroso, ou buscando um novo amor, ou então, lutando pela reconquista do amor perdido.


LENDAS DE XANGÔ

(1) Quando Xangô pediu Oxum em casamento, ela disse que aceitaria com a condição de que ele levasse o pai dela, Oxalá, nas costas para que ele, já muito velho, pudesse assistir ao casamento. Xangô, muito esperto, prometeu que depois do casamento carregaria o pai dela no pescoço pelo resto da vida; e os dois se casaram. Então, Xangô arranjou uma porção de contas vermelhas e outra de contas brancas, e fez um colar com as duas misturadas. Colocando-o no pescoço, foi dizer a Oxum: “- Veja, eu já cumpri minha promessa. As contas vermelhas são minhas e as brancas, de seu pai; agora eu o carrego no pescoço para sempre.”

(2) Xangô vivia em seu reino com suas 3 mulheres ( Iansã, Oxum e Obá ), muitos servos, exércitos, gado e riquezas. Certo dia, ele subiu num morro próximo,junto com Iansã; ele queria testar um feitiço que inventara para lançar raios muito fortes. Quando recitou a fórmula, ouviu-se uma série de estrondos e muitos raios riscaram o céu. Quando tudo se acalmou, Xangô olhou em direção à cidade e viu que seu palácio fora atingido. Ele e Iansã correram para lá e viram que não havia sobrado nada nem ninguém. Desesperado, Xangô bateu com os pés no chão e afundou pela terra; Iansã o imitou. Oxum e Obá viraram rios e os 4 se tornaram Orixás.

(3) Odùdùa, um guerreiro que vinha de uma cidade do Leste, invadiu com seu exército a capital do povo chamado Ifé. Esta cidade depois se chamou Ilê-Ifé, quando Odùdùa se tornou seu governante. Odùdùa tinha um filho chamado Acambi e Acambi teve sete filhos e seus filhos ou netos foram reis de cidades importantes. A primeira filha deu-lhe um neto que governou Egbá, a segunda foi mãe do Alaketo, o rei de Keto, o terceiro filho foi coroado rei da cidade de Benim, o quarto foi Orungã, que veio a ser rei de Ilê-Ifé, o quinto filho foi soberano de Xabes, o sexto, rei de Popôs, e o sétimo foi Oraniã, que foi rei de Oyó. Esses príncipes eram vassalos do rei de Ilê-Ifé, que então se transformou no centro de um grande império, cujo nome era Oyó. Odùdùa era o grande rei de Oyó. Ele unificou as mais importantes cidades daquela região, mais tarde conhecida como sendo a terra dos yorubás. Em cada cidade ele pôs no trono um parente seu. Ele foi o grande soberano dos reinos yorubás. Ele foi chamado o primeiro Alafim, o rei de Oyó. Quando Odùdùa morreu, os príncipes fizeram a partilha dos bens do rei entre si e Acambi ficou como regente do império até sua morte, nunca tendo sido, contudo, coroado rei do império. Nunca lhe foi atribuído o título de Alafim. Com a morte de Acambi, foi feito rei Oraniã, o mais jovem dos príncipes do império, que tinha se tornado um homem rico e poderoso. A ancestral Ilé-Ifé era a capital dessa vasta região conhecida como Oyó. O Alafim Oraniã foi um grande conquistador e solidificou o poderio de Oyó.

(4) Um dia Oraniã levou seus exércitos para combater o povo que habitava uma região a leste de seu império. Era uma guerra muito difícil, mas, antes de ganhar a guerra, o oráculo o aconselhou a estacionar com os seus homens, pois ali ele haveria de muito prosperar. Assim foi feito e aquele acampamento a leste de Ilé-Ifé tornou-se uma cidade poderosa. Essa próspera povoação foi chamada cidade de Oyó e veio a ser a grande capital do império fundado por Odùdùa. Com a morte de Oraniã, seu filho Ajacá foi coroado terceiro Alafim de Oyó. Ajacá, que tinha o apelido de Dadá por causa de seu cabelo encaracolado, era um homem pacato e sensível, com pouca habilidade e nenhum tino para governar. Dadá-Ajacá tinha um irmão que fora criado na terra dos nupes, um povo vizinho dos yorubás, filho de Oraniã com a princesa Iamassê, embora haja quem diga que a mãe dele foi Torossi, filha de Elempê, o rei dos nupes, também chamados tapas. Esse filho de Oraniã era Xangô, grande guerreiro, que fundara uma pequena cidade chamada Cossô, nas cercanias da capital Oyó. Xangô, que era o rei de Cossô, uma cidade tributária de Oyó, um dia destronou o irmão Ajacá-Dadá, e o exilou como rei de uma pequena cidade, onde usava uma pequena coroa de búzios, chamada coroa de Baiani. Xangô foi assim coroado o quarto Alafim de Oyó, governando o império de Odùdùa e Oraniã por sete anos. Quando Xangô morreu, e dizem que foi obrigado a se enforcar num momento de crise de seu império, seus ministros procuraram seu corpo e não encontraram. Compreenderam então que ele tinha entrado para o Orum e instituíram seu culto. Xangô havia se transformado em orixá

(5) Quando Xangô pediu Oxum em casamento, ela disse que aceitaria com a condição de que ele levasse o pai dela, Oxalá, nas costas para que ele, já muito velho, pudesse assistir ao casamento. Xangô, muito esperto, prometeu que depois do casamento carregaria o pai dela no pescoço pelo resto da vida; e os dois se casaram. Então, Xangô arranjou uma porção de contas vermelhas e outra de contas brancas, e fez um colar com as duas misturadas. Colocando-o no pescoço, foi dizer a Oxum: “- Veja, eu já cumpri minha promessa. As contas vermelhas são minhas e as brancas, de seu pai; agora eu o carrego no pescoço para sempre.”

(6) Xangô vivia em seu reino com suas 3 mulheres ( Iansã, Oxum e Obá ), muitos servos, exércitos, gado e riquezas. Certo dia, ele subiu num morro próximo, junto com Iansã; ele queria testar um feitiço que inventara para lançar raios muito fortes. Quando recitou a fórmula, ouviu-se uma série de estrondos e muitos raios riscaram o céu. Quando tudo se acalmou, Xangô olhou em direção à cidade e viu que seu palácio fora atingido. Ele e Iansã correram para lá e viram que não havia sobrado nada nem ninguém. Desesperado, Xangô bateu com os pés no chão e afundou pela terra; Iansã o imitou. Oxum e Obá viraram rios e os 4 se tornaram Orixás.

(7) Xangô era rei de oyó, terra de seu pai; já sua mãe era da cidade de empê, no território de tapa. Por isso, ele não era considerado filho legitimo da cidade. A cada comentário maldoso xangô cuspia fogo e soltava faiscas pelo nariz. Andava pelas ruas da cidade com seu oxé, um machado de duas pontas, que o tornava cada vez mais forte e astuto onde havia um roubo, o rei era chamado e, com seu olhar certeiro, encontrava o ladrão onde quer que estivesse. Para continuar reinado xangô defendia com bravura sua cidade; chegou até a destronar o próprio irmão, dadá, de uma cidade vizinha para ampliar seu reino. Com o prestigio conquistado, xangô ergueu um palácio com cem colunas de bronze, no alto da cidade de kossô, para viver com suas três esposas: oyá (yansã) amiga e guerreira; oxum, coquete e faceira e obá, amorosa e prestativa. Para prosseguir com suas conquistas, xangô pediu ao babalaô de oyó uma fórmula para aumentar seus poderes; este entregou-lhe uma caixinha de bronze, recomendando que só fosse aberta em caso de extrema necessidade de defesa. Curioso, xangô contou a yansã o ocorrido e ambos, não se contendo, abriram a caixa antes do tempo. Imediatamente começou a relampejar e trovejar; os raios destruíram o palácio e a cidade, matando toda a população. Não suportando tanta tristeza, xangô afundou terra adentro, retornando ao orun.




domingo, 10 de fevereiro de 2019

OS ORIXÁS

Orixá: Palavra de origem ioruba que designa as divindades dos cultos afro-brasileiros. Cada orixá está ligado a um fenômeno natural e/ou a uma atividade específica, ou ainda a um aspecto da personalidade humana.Em número superior a 600 na África, não se sabe quantos deles chegaram a ser cultuados no Brasil.Os principais são: Exu, Ogum. Oxóssi, Ossâim, Xangô, Iansã, Oxum, Oxumarê, Obaluaê ou Omolu, Iemanjá e Oxalá.


Devido à repressão da Igreja Católica, cada um deles foi associado a um santo católico.O culto aos orixás inclui diversos rituais, inclusive a oferendas de comidas e preparados ritualmente, segundo as normas particulares de cada orixá, e bebidas alcoólicas; ocorre também o sacrifício de animais (galináceos, caprinos e bovinos).

Cada pessoa tem seu orixá protetor ou, segundo os diversos cultos, um principal e um secundário, ou mais. A identificação do orixá protetor é feita pelo pai-de-santo, geralmente através do jogo de búzios.

Os protegidos - ditos filhas ou filhos-de-santo - de cada orixá podem, ap&oacutte;s o ritual de iniciação, ser possuídos ou incorporar seu orixá. No Brasil, em Cuba e no Haiti, cada um deles foi associado a um santo católico. As aventuras dos orixás femininos e masculinos, seus casamentos e conflitos, formam uma rica mitologia.


OLORUM

Orixá Masculino da criação do mundo. Foi praticamente esquecido em grande parte das casas de culto brasileiras. É o pai de Oxalá. Termos

Terreiro: Na umbanda, no candomblé e em outras religiões afro-brasileiras, local sagrado, ao ar livre ou em recinto fechado, onde se realizam cerimônias e cultos. (Cada terreiro tem seu orixá (ou santo) e seu chefe: o babalorixá ou a ialorixá.)

Filho-de-santo: Originalmente aplicado apenas às pessoas, no início mulheres, iniciadas no candomblé, o termo foi depois estendido a todo aquele que, de algum modo, cultua os orixás, identifica seus orixás protetores, etc. (após a iniciação, quando seus cabelos são raspados, as filhas-de-santo têm diversas obrigações na casa de culto, como preparar comidas-de-santo, participar de rituais e festas, etc.)

Mãe-de-santo ou ialorixá: Sacerdotisa-chefe nos cultos afro-brasileiros, responsável pela iniciação dos filhos-de-santo.

Babalaô: Sacerdote dedicado ao culto de Ifá, o orixá da adivinhação. Geralmente usa os búzios, mas também pode adivinhar com cocos de dendê ou com o obi, que é uma noz de cola cortada em duas ou quatro partes.


XANGÔ

Divindade do culto afro-brasileiro, um dos orixás mais destacados do candomblé. Orixá masculino das tempestades, dos trovões, dos raios e da justiça. Segundo a tradição oral, teria sido o quarto rei de Oyó, capital do antigo império ioruba. Filho de Iemanjá, foi casado com Iansã, com Oxum e com Obá. É representado com um rei poderoso que distribui justiça, com um machado de duas lâminas nas mãos. Características: força, retidão, orgulho, autoritarismo, sensualidade e, quando contrariado, violência. Sincretismo: no sincretismo afro-católico, aparece como São Jerônimo, possivelmente devido ao leão que acompanha a imagem do santo, animal simbólico da realeza entre os iorubas. Também aparece como Santa Bárbara, protetora contra as tempestades, e como São Jorge, devido à espada que acompanha a imagem do santo, que é identificada à insígnia do orixá, o oxé, machadinha de lâmina dupla. São Pedro e São Miguel.

Cores: vermelho e branco no candomblé e marrom na umbanda.
Oferendas: sua comida-de-santo é galo, bode, cágado, carneiro e caruru de quiabos (amalá). Locais: pedreiras ou pedra em beira de cachoeira.
Saudação: Kabiencille Xangô
Simbolismo: oché - machado de 2 lados.
Dia da semana: quarta-feira e para outros terça-feira, sendo a festa anual celebrada a 24 de junho ou 30 de setembro.

Em Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Paraíba, o termo "xangô" é utilizado genericamente pelos leigos para designar o próprio culto afro-brasileiro.


EXU

Figura muito popular e controvertida do panteão afro-brasileiro. No candomblé, é considerado, em algumas casas, um orixá e em outras, não, mas todas atribuem-lhe a função de mensageiro dos orixás, responsável por levar os pedidos dos homens às divindades e traduzir-lhes as respostas. Transita tanto pelo mundo material (ayé) quanto pela região do sobrenatural (orum).

É considerado o mais humano dos orixás por interferir nas ocorrências práticas e mundanas.

Atribuem-lhe freqüentes interferências maléficas na vida prática e espiritual.

Características: afinidade com dinheiro e ganhos materiais, sexualidade exacerbada, irreverência e, principalmente, beligerância indiscriminada.

Sincretismo: na umbanda e no folclore é considerado a personificação do Mal, identificado com o Diabo cristão.

Cores: o preto e vermelho;
Oferendas: no candomblé é homenageado antes dos orixás e quase todos os tipos de comida-de-santo lhe são oferecidas, sendo a mais comum farofa com azeite-de-dendê e pimenta, pinga, charutos e o sacrifício de um galo ou bode pretos. Locais: seus locais são as encruzilhadas, passagens, rotas, esquinas e portas;
Saudação: Laroiê
Simbolismo: Ogó (pênis de madeira, com búzios pendurados simbolizando o sêmen).
Dia da semana: segunda-feira

O aspecto feminino de Exu é a Pomba-Gira, que se destaca pelo humor, volúpia e sensualidade (cabelos soltos, saias rodadas, flores na cabeça, dança frenética).


IANSÃ

Orixá feminino iorubano, associado aos ventos fortes e tempestades. É também conhecida no Brasil por Oiá, tal como se chama na África a deusa do rio Oiá (Níger), sua forma original. Segundo as lendas, foi mulher de Ogum e trocou-o por Xangô, mas sem romper totalmente os laços com Ogum. É representada como uma rainha guerreira, com uma espada em punho. Muito corajosa, é o único orixá capaz de enfrentar os eguns, espíritos dos mortos. Características: temperamento forte, passional e autoritário, ao mesmo tempo agressivo e feliz, uma de suas características mais marcantes é a sensualidade irrefreada.

Sincretismo: identificada pelos afro-brasileiros como Santa Bárbara, tornou-se protetora contra os raios e tormentas.
Cores: suas cores são o vermelho e o branco, ou o roxo.
Oferendas: come acarajé e abará, e detesta abóbora. Sacrificam-lhe cabras e galinhas.
Locais: margem de rios, ventania.
Saudação: Epahei.
Simbolismo: Chicote (Eruexim), Raio-Zambembe, espada curta - Abebé, raio.
Dia da semana: quarta-feira, também dia de xangô, o deus dos trovões.
Festejada dentro e fora dos candomblés a 4 de dezembro.
Para outros terça-feira.
É muito popular entre as mulheres dos candomblés, sendo escolhida para santa das mais inquietas e de vida sexual mais ativa.


IEMANJÁ

Iemanjá (do ioruba yeye, mãe + eja, peixe), orixá feminino das águas, especialmente do mar. Muito cultuada em todo o país, é também chamada Janaína, Princesa de Auicá, Princesa do Aiocá, Sereia do Mar, Rainha do Mar, Senhora das Águas. Associada à gestação e à procriação, é-lhe atribuida a condição de mãe da grande maioria dos orixás, entre os quais Xangô, Iansã e Oxóssi. É representada como uma senhora branca de seios grandes, com uma coroa franjada, empunhando um leque com desenhos de peixes ou sereias. Aculturada com as sereias de origem européia e as iaras ameríndias. Segundo o atual movimento negro deveria ser negra, já que se trata de um orixá africano.
Características: sentimento maternal, afabilidade e doçura; apego à hierarquia, retidão e alguma rigidez; determinação, responsabilidade e força.
Sincretismo: sincretizada com várias Nossas Senhoras, é festejada em várias datas: em Salvador, a 2 de fevereiro (dia de Nossa Senhora do Rosário, quando um grande cortejo de barcos parte do bairro do Rio Vermelho e entra mar adentro lebando-lhe presentes). No Rio de Janeiro e em diversas partes do litoral, é festejada no Ano-Novo e em Santos (SP), a 15 de agosto e 31 de dezembro. S
ua correspondente católica, nos candomblés, é Nossa Senhora da Conceição, festejada no dia 8 de dezembro.
Cores: o azul, o rosa-claro e o azul-claro.
Oferendas: peixes do mar, arroz, milho, camarão com coco.
Locais: mar e praia.
Saudação: Odôia!
Simbolismo: Abebé (leque) de metal branco com um peixe ou em formato de peixe, concha, ondas, peixes.
Dia da semana: sábado


LOGUN EDÉ

Apesar de não ser um Orixá tão conhecido no Brasil, é bem cultuado na região da Bahia, e também no Rio de Janeiro, onde tem muitos filhos de Santo. Mas seu culto encontra-se em plena expansão. Erinlè (confundido no Brasil com Oxóssi) teria tido com Oxum, um filho chamado Lógunède (Logunedé). Assim, Logunedé é metade Oxóssi e metade Oxum. Ele é seis meses masculino-Oxóssi, vivendo sobre a terra e comendo caça, e seis meses feminino-Oxum, vivendo sob as águas e comendo peixe. Características: Sintetizando os tipos ligados a Oxóssi e a Oxum. Portanto contraditórios, gênio imprevisível, por vezes falante, por vezes solitário. Possuem elegância, vaidade e altivez.
Sincretismo: São Miguel Arcanjo. Na Bahia é sincretizado com Santo Expedito.
Cores: Amarelo ouro e azul claro alternados.
Oferendas: feijão fradinho, milho, cebola, camarão, inhame, ovo, coco, mel, dendê.
Locais: mata, fauna, flora, rios, cachoeiras.
Saudação: Lôsi Lôsi Arô.
Simbolismo: Cavalo marinho.
Dia da semana: quinta-feira.


NANÃ

Orixá feminino do fundo das águas de lago ou mar, do lodo e da lama, e da velhice. Também chamada Nanã Burucu e Anemburoquê, popularizou-se a partir do início do séc. XX. É o mais velho orixá feminino; mãe de todos os orixás, para alguns, ou apenas de Obaluaê e Oxumaré, em alguns mitos é esposa de Oxalá e está ligada à criação do mundo. É apelidada "Vovó" e, quando se incorpora, dança vagarosamente.
Características: calma, benevolência e gentileza, principalmente com as crianças.
Sincretismo: Sant'Ana.
Cores: branco e azul-claro no Candomblé e roxo na Umbanda.
Oferendas: alimentos brancos: milho branco, inhame, arroz, etc.
Locais: cachoeira.
Saudação: Saluba Salu si.
Simbolismo: Ibirin feito compalha da costa e búzios (vassoura de Nanã).
Dia da semana: Na Umbanda é terça-feira e no Candomblé é no sábado.


OBÁ

Senhora das ilhas e penínsulas e orixá que zela pelo amor. Deusa do Rio Obá. Guerreira, veste vermelho e branco, usa escudo e lança. Na dança briga com Oxum que, com artifícios, a induziu a cortar uma das orelhas para usá-la na comida de Xangô e com isso manter seu amor. Obá descobriu-se enganada, e foi repudiada por Xangô.
Características: honestidade e elevado senso moral. Guerreiros por natureza. Simples, ingênuos e crédulos. Não cultiva amigos por os acharem interesseiros.
Sincretismo: Nossa Senhora das Neves, Nossa Senhora do Mont Serrat e Santa Joana D'Arc. Cores: vermelho, branco, amarelo, marfim, rosa, coral.
Oferendas: acarajé, feijão fradinho, amalá e caruru.
Locais: em penínsulas, águas agitadas nos rios.
Saudação: Exó.
Simbolismo: escudo e a espada.
Dia da semana: quarta-feira


OGUM

Orixá masculino do ferro e da guerra e, por extensão, das competições. É um dos orixás mais conhecidos e cultuados no Brasil. Filho de Iemanjá, é irmão de Exu, com o qual se assemelha pela agressividade e beligerância. Conquistador e volúvel, ligou-se a vários orixás femininos, entre as quais Iansã, que o trocou por Xangô. Seu símbolo é uma espada prateada, e seu amuleto (ou fetiche) é uma penca de 14 ou 21 instrumentos de ferro. Quando se incorpora, dança brandindo a espada, como em combate.
Características: impetuosidade, autoritarismo, coragem, retidão e gosto pelas viagens e consquistas.
Sincretismo: identificado com São Jorge (São Paulo e Rio de Janeiro) e Santo Antonio (Bahia).
Cores: no candomblé sua cor é o azul-escuro, às vezes com o branco, e, na umbanda, vermelho e branco.
Conta: contas de louça azul escuro ou verde com riscos azuis.
Oferendas: cravos e rosas vermelhas, feijão-preto ou feijoada, acarajé, inhame assado, vela azul-marinho.
Locais: na orla das matas, nas proximidades de ruas encruzilhadas, estradas e caminhos de terra.
Saudação: Ogunhê!
Simbolismo: espada de ferro, lança, torquês, ponta de flecha, facão, enxada, enxó.
Dia da semana: quinta-feira para alguns e terça-feira para outros.
Ogum: deus nagô da guerra, Ogundelê.

AS 7 FALANGES DE OGUM
Ogum Beira-Mar (oferenda à beira-mar)
Ogum Rompe-Mato (oferenda na entrada da mata)
Ogum Megê (oferenda no lado direito do cemitério)
Ogum Naruê (oferenda no lado esquerdo do cemitério)
Ogum Matinata (oferenda no sopé de morro)
Ogum Yara (oferenda na margem de rio)
Ogum Delê (oferenda na água do mar)


Omolu

Omolu ou Obaluaê, orixá masculino das doenças, em especial de pele, e da varíola. Também chamado Abaluaê ou Omonolu, os dois nomes correspondem às formas jovem e velha de Xampanã, orixá da varíola e da peste, cujo nome é considerado tabu. Filho de Nanã, Obaluaê ficou muito doente e fraco e foi por ela abandonado, sendo recolhido e cuidado por Iemanjá. É representado com o rosto e o corpo cobertos por véus e vestes de palha e, quando se incorpora, dança em convulsões e tremendo, alquebrado, com grande sofrimento.
Características: Omolu tem o poder de enviar e curar doenças epidêmicas e individuais pelo que seu culto apresenta rígidas normas e proibições, para evitar que se encolerize.
Sincretismo: é identificado com São Lázaro e São Bento.
Cores: branco e preto, às vezes marron.
Oferendas: pipoca sem sal, feijão-preto e feijão-fradinho, aberém, etc.
Saudação: Atotô.
Dia da semana: segunda-feira.

Omolu - Omulu, orixá das doenças. Aparece sob duas formas: jovem e forte, como Obaluaiê, e velho e decrépito, como Omulu. Nos candomblés, é considerado companheiro inseparável de Ogum (deus da guerra) e de Exu; costuma-se chamá-lo de "homem da encruzilhada". É um dos orixás mais prestigiados no brasil.


OSSAIM

Ossaim é o Orixá conhecido nos cultos afro-brasileiros como o Senhor das ervas litúrgicas e medicinais, sendo por isso também o Orixá médico que tem poder de curar através das plantas medicinais, pois todas elas lhe pertencem e, apesar de muitas serem propriedade de alguns orixás e utilizadas para o ritual dos mesmos, todas são primeiramente de Ossaim. Ossaim é o Senhor das matas e florestas, ele é habitante assíduo delas, assim como Oxóssi e Obá. É ele quem tem o domínio sobre as folhas, cascas e raizes, sendo regente absoluto da Amazônia.
Características: Equilíbrio. Sincretismo: Santo Onofre e São benedito.
Cores: Verde, rosa, azul e vermelho.
Oferendas: milho.
Locais: florestas, selvas ou ao pé de uma árvore.
Saudação: Auê Aça
Simbolismo: Ramo de folhas com um pássaro pousado, indicando seus poderes de cura e magia. Dia da semana: quinta-feira.


OXALÁ

Orixá masculino do céu e da criação do mundo. Também chamado Obatalá e Orixalá, é um dos orixás mais queridos e respeitados do Brasil, principalmente na Bahia. É filho de Olorum e pai de todos os orixás; ligou-se apenas a Iemanjá, com quem teve a maioria dos filhos, e a Nanã, com teve os orixás Iroco, Oxumaré e Obaluaê. Governa, além dos céus, todos os orixás e, por extensão, a humanidade, que criou com figuras de barro cozido.
Características: extremamente pacífico, calmo e tranquilo, Oxalá é sempre o último orixá a se manifestar durante uma cerimônia. Divindade da criação; poder e proteção.
Sincretismo: habitualmente identificado com Jesus Cristo. Em sua homenagem é realizada a lavagem das escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador (BA).
Cor: sua cor é o branco.
Conta: Branca leitosa.
Oferenda: Comida branca - ebô de milho sem azeite e sem sal e acaçá; conquém, galinha branca, pombo, cabra.
Saudação: Epá Babá
Simbolismo: Pedacinhos de marfim dentro de um anel de chumbo.
Instrumentos: Capacete, couraça, e capangas, 1 espada, 1 mão-de-pilão, 1 escudo, 1 polvari.
Indumentária: Branca
Dia da semana: é a sexta-feira, pelo que muitos filhos-de-santo vestem roupas brancas neste dia.


OXÓSSI

Orixá Masculino da caça e das matas. Filho de Iemanjá, é irmão de Exu e de Ogum. Simbolizado por um arco e flecha unidos, mantém vivos os animais das matas, onde vive. Na Umbanda, Oxóssi é considerado o chefe dos caboclos, índios e boiadeiros. Orixá das matas e amigo inseparável de Ogum, é o representante da medicina na mitologia africana: para os povos nativos, suas folhas e ervas medicinais são fontes de saúde. Oxóssi habita nas entranhas das florestas virgens. É o senhor dos arbustos, protetor de toda a flora. Foi ele quem inspirou as comunidades nehras na busca do conhecimento de suas origens.
Características: liberdade e independência, às vezes solidão e individualismo.
Sincretismo: em algumas regiões é identificado com São Jorge; em outras, com São Sebastião.
Cor: sua cor é o azul-claro no candomblé e verde na umbanda.
Oferendas: Axoxô, milho e coco.
Locais: matas.
Saudação: Oké Arô Odé
Simbolismo: Arco e flecha.
Dia da semana: quinta-feira


OXUM

Orixá feminino das fontes e rios, da beleza e da riqueza. É irmã e esposa de Xangô, assim como Iansã e Obá. Representada como uma jovem muito bonita e vaidosa, quando se incorpora dança como se estivesse tomando banho em um rio, penteando os cabelos e olhando-se ao espelho; sacode os braços para ouvir tilintar os braceletes. Tem também uma dança guerreira. Rege também a fertilidade das mulheres e a riqueza.
Características: além da graça e beleza, são suavidade, gentileza, jovialidade e uma sensualidade intensa, mas discreta.
Sincretismo: é sincretizada com diversas santas católicas, entre as quais Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Conceição e a Virgem Maria.
Cor: amarelo-ouro.
Oferendas: ovos, abará, ipetê, banana, canjica, xinxim, omolucum.
Locais: rios ou nascentes.
Saudação: Ora Ieiê. Simbolismo: espelho, abebé com estrela.
Dia da semana: sábado.
Tem várias formas, com diferentes idades e seu oxé é o seixo.


OXUMARÉ

Orixá masculino e feminino do arco-íris e das chuvas.É filho de Nanã e passa metade do ano na forma masculina e a outra metade na forma feminina, quando é chamado Bessém. É representado por uma serpente, pois na África o arco-íris é mitologicamente descrito como uma grande serpente das águas que se eleva até o céu. Quando incorpora, dança apontando alternadamente para o céu e para a terra, revelando a dualidade característica do orixá. Rege o bom tempo, enviando as chuvas na quantidade ideal para a lavoura.
Características: a mutação e renovação constantes também são características de Oxumaré, além da dualidade.
Sincretismo: é identificado a São Bartolomeu.
Cores: são o verde e amarelo ou todas as cores do arco-íris.
Oferendas: secas - milho branco, acarajé, paçoca, coco, mel, feijão, ovos e dendê; outras - azeite, camarões, cebola, acaçá.
Locais: como Oxum, recebe as oferendas nas cachoeiras.
Saudação: Ru Boboi Dan
Simbolismo: Tridente com uma cobra, Arco-íris.
Dia da semana: segunda-feira e para outros terça-feira.








sábado, 9 de fevereiro de 2019

OS BOIADEIROS

     Os Boiadeiros na Umbanda São espíritos de pessoas, que em vida trabalharam com o gado, em fazendas por todo o Brasil, estas entidades trabalham da mesma forma que os Caboclos nas sessões de Umbanda.

Usam de canções antigas, que expressam o trabalho com o gado e a vida simples das fazendas, nos ensinando a força que o trabalho tem e passando, como ensinamento, que o principal elemento da sua magia é a força de vontade, fazendo assim que consigamos uma vida melhor e farta.
Nos seus trabalhos usam de velas, pontos riscados e rezas fortes para todos os fins. O Caboclo Boiadeiro traz o seu sangue quente do sertão, e o cheiro de carne queimada pelo sol das grandes caminhadas sempre tocando seu berrante para guiar o seu gado. Normalmente, eles fazem duas festas por ano, uma no inicio e outra no meio do ano. Eles são logo reconhecidos pela forma diferente de dançar, tem uma coreografia intricada de passos rápidos e ágeis, que mais parece um dançarino mímico, lidando bravamente com os bois. Seu dia é quinta feira, gosta de bebida forte como por exemplo cachaça com mel de abelha, que eles chamam de meladinha, mas também bebem vinho. Fumam cigarro, cigarro de palha e charutos.

Seu prato preferido é carne de boi com feijão tropeiro, feito com feijão de corda ou feijão cavalo. Boiadeiro também gosta muito de abóbora com farofa de torresmo. Em oferendas é sempre bom colocar um pedaço de fumo de rolo e cigarro de palha. No Terreiro os Boiadeiros vêm "descendo em seus aparelhos" como estivessem laçando seu gado, dançando, bradando, enfim, criando seu ambiente de trabalho e vibração. Com seus chicotes e laços vão quebrando as energias negativas e descarregando os médiuns, o terreiro e as pessoas da assistência.

Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo as portas para a entrada dos outros guias e tornando-se grandes protetores, assim como os Exus. Quando o médium é mulher, freqüentemente, a entidade pede para que seja colocado um pano de cor, bem apertado, cobrindo o formato os seios.

Estes panos acabam, por vezes, como um identificador da entidade, e até da sua linha mais forte de atuação, pela sua cor ou composição de cores.

Alguns usam chapéus de boiadeiro, laços, jalecos de couro, calças de bombachas, e tem alguns, que até tocam berrantes em seus trabalhos.

Nomes de alguns boiadeiros: Boiadeiro da Jurema, Boiadeiro do Lajedo, Boiadeiro do Rio, Carreiro, Boiadeiro do Ingá, Boiadeiro Navizala, Boiadeiro José, Boiadeiro de Imbaúba, João Boiadeiro, Boiadeiro Chapéu de Couro, Boiadeiro Juremá, Zé Mineiro, Boiadeiro do Chapadão, etc. Sua saudação: “Jetruá Boiadeiro”, “Xetro Marrumbaxêtro” Os Boiadeiros são entidades que representam a natureza desbravadora, romântica, simples e persistente do homem do sertão, "o caboclo sertanejo".

São os Vaqueiros, Boiadeiros, Laçadores, Peões, Tocadores de Viola. O mestiço Brasileiro, filho de branco com índio, índio com negro e assim vai.

Os Boiadeiros representam a própria essência da miscigenação do povo brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé.

Ao amanhecer o dia, o Boiadeiro arrumava seu cavalo e levava seu gado para o pasto, somente voltava com o cair da tarde, trazendo o gado de volta para o curral. Nas caminhadas tocava seu berrante e sua viola cantando sempre uma modinha para sua amada, que ficava na janela do sobrado, pois os grandes donos das fazendas não permitiam a mistura de empregados com a patroa.

É tal e qual se poderia presenciar do homem rude do campo. Durante o dia debaixo do calor intenso do sol ele segue, tocando a boiada, marcando seu gados e território.

À noite ao voltar para casa, o churrasco com os amigos e a família, um bom papo, ponteado por um gole de aguardente e um bom palheiro, e nas festas muita alegria, nas danças e comemorações.

Sofreram preconceitos, como os "sem raça", sem definição de sua origem. Ganhando a terra do sertão com seu trabalho e luta, mas respeitando a natureza e aprendendo, um pouco com o índio: suas ervas, plantas e curas; e um pouco do negro: seus Orixás, mirongas e feitiços; e um pouco do branco: sua religião (posteriormente misturada com a do índio e a do negro) e sua língua, entre outras coisas.

Dá mesma maneira que os Pretos-Velhos representam a humildade, os Boiadeiros representam a força de vontade, a liberdade e a determinação que existe no homem do campo e a sua necessidade de conviver com a natureza e os animais, sempre de maneira simples, mas com uma força e fé muito grande.

O caboclo boiadeiro está ligado com a imagem do peão boiadeiro - habilidoso, valente e de muita força física.
Vem sempre gritando e agitando os braços como se possuísse na mão, um laço para laçar um novilho.

Sua dança simboliza o peão sobre o cavalo a andar nas pastagens. Enquanto os "caboclos índios" são quase sempre sisudos e de poucas palavras, é possível encontrar alguns boiadeiros sorridentes e conversadores.

Os Boiadeiros vêm dentro da linha de Oxossi.

Mas também são regidos por Iansã, tendo recebido da mesma a autoridade de conduzir os eguns da mesma forma que conduziam sua boiada quando encarnados.

Levam cada boi (espírito) para seu destino, e trazem os bois que se desgarram (obsessores, quiumbas, etc.) de volta ao caminho do resto da boiada (o caminho do bem). Os Caboclos são entidades fortes, viris.

Alguns têm algumas dificuldades de se expressar em nossa língua, sendo normalmente auxiliados pelos cambonos.

São sérios, mas gostam de festas e fartura.

Gostam de música, cantam toadas que falam em seus bois e suas andanças por essas terras de meu Deus.

Os Boiadeiros também são conhecidos como "Encantados",pois segundo algumas lendas, eles não teriam morrido para se espiritualizarem, mas sim se encantados e transformados em entidades especiais.

Os Boiadeiros também apresentam bastante diversidade de manifestações.

Boiadeiro menino, Boiadeiro da Campina, Boiadeiro Bugre e muitos outros tipos de Boiadeiros, sendo que alguns até trabalham muito próximos aos Exus. Suas cantigas normalmente são muito alegres, tocadas num ritmo gostoso e vibrante. São grandes trabalhadores, e defendem a todos das influências negativas com muita garra e força espiritual.

Possuem enorme poder espiritual e grande autoridade sobre os espíritos menos evoluídos, sendo tais espíritos subjugados por eles com muita facilidade. Sabem que a prática da caridade os levará a evolução, trabalham incorporados na Umbanda, Quimbanda e Candomblé.

Fazem parte da linha de caboclos, mais na verdade são bem diferentes em suas funções.

Formam uma linha mais recente de espíritos, pois já viveram mais com a modernidade do que os caboclos, que foram povos primitivos.

Esses espíritos já conviveram em sua ultima encarnação com a invenção da roda, do ferro, das armas de fogo e com a prática da magia na terra.

Saber que boiadeiros conheceram e utilizaram essas invenções nos ajuda muito para diferenciarmos dos caboclos.

São rudes nas suas incorporações, com gestos velozes e pouco harmoniosos. Sua maior finalidade não é a consulta como os Pretos-velhos, nem os passes e muito menos as receitas de remédios como os caboclos, e sim o "dispersar de energia" aderida a corpos, paredes e objetos.

É de extrema importância essa função pois enquanto os outros guias podem se preocupar com o teor das consultas e dos passes, existe essa linha "sempre" atenta a qualquer alteração de energia local (entrada de espíritos).

Quando bradam alto e rápido, com tom de ordem, estão na verdade ordenando a espíritos que entraram no local a se retirar, assim "limpam" o ambiente para que a prática da caridade continue sem alterações.

Esses espíritos atendem aos boiadeiros pela demonstração de coragem que os mesmos lhes passam e são levados por eles para locais próprios de doutrina.

Em grande parte, o trabalho dos Boiadeiros ''e no descarrego e no preparo dos médiuns. Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo a portas para a entrada dos outros guias e tornando- se grandes protetores, como os Exus.

Outra grande função de um boiadeiro é manter a disciplina das pessoas dentro de um terreiro, sejam elas médiuns da casa ou consulentes.

Costumam proteger demais seus médiuns nas situações perigosas.

São verdadeiros conselheiros e castigam quem prejudica um médium que ele goste.

"Gostar" para um boiadeiro é ver no seu médium coragem, lealdade e honestidade, aí sim é considerado por ele "filho".

Pois ser filho de boiadeiro não é só tê-lo na coroa.

Trabalham também para Orixás, mais mesmo assim, não mudam sua finalidade de trabalho e são muito parecidos na sua forma de incorporar e falar, ou seja, um boiadeiro que trabalhe para Ogum é praticamente igual a um que trabalhe para Xangô, apenas cumprem ordens de Orixás diferentes, não absorvendo no entanto as características deles.

Dentro dessa linha a diversidade encontra-se na idade dos boiadeiros.

Existem boiadeiros mais velhos, outros mais novos, e costumam dizer que pertencem a locais diferentes, como regiões, por exemplo: Nordeste, Sul, Centro-Oeste, etc. Os Boiadeiros representam a própria essência da miscigenação do povo brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé.

Jetruá Boiadeiro...
Saravá Seu Boiadeiro.

Em grande parte, o trabalho dos Boiadeiros ''e no descarrego e no preparo dos médiuns. Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo a portas para a entrada dos outros guias e tornando- se grandes protetores, como os Exus.

Outra grande função de um boiadeiro é manter a disciplina das pessoas dentro de um terreiro, sejam elas médiuns da casa ou consulentes.

Costumam proteger demais seus médiuns nas situações perigosas.

São verdadeiros conselheiros e castigam quem prejudica um médium que ele goste. "Gostar" para um boiadeiro é ver no seu médium coragem, lealdade e honestidade, aí sim é considerado por ele "filho".

Pois ser filho de boiadeiro não é só tê-lo na coroa.

Trabalham também para Orixás, mais mesmo assim, não mudam sua finalidade de trabalho e são muito parecidos na sua forma de incorporar e falar, ou seja, um boiadeiro que trabalhe para Ogum é praticamente igual a um que trabalhe para Xangô, apenas cumprem ordens de Orixás diferentes, não absorvendo no entanto as características deles.

Dentro dessa linha a diversidade encontra-se na idade dos boiadeiros.

Existem boiadeiros mais velhos, outros mais novos, e costumam dizer que pertencem a locais diferentes, como regiões, por exemplo: Nordeste, Sul, Centro-Oeste, etc...

Os Boiadeiros representam a própria essência da miscigenação do povo brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé.

Jetruá Boiadeiro...
Saravá Boiadeiro.





quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

A História de Rosinha de Omulú e de Zezinho da Praia. (Ibeijadas)


Em um dia de muita luz,
no terreiro vieram saravá,

trazendo o nome de Jesus,
nosso amado Pai Oxalá.

Uma pula e salta como pipoca na panela,
humilde como preto velho mas sagaz como um Exú,
as vezes quietinha e as vezes tagarela,
é a Rosinha menina bela da linha de Omulú.

O outro é um menino encantador,
abençoado por Pai Oxalá,
de sua vida só gestos de amor,
esse é Zezinho da Praia o filho de Iemanjá.


    Rosinha de Omulú é uma menininha sapeca, risonha, meiga, que
trabalha na linha de Ibeijada nos terreiros de Umbanda.

    Ela vem na irradiação de Pai Omulú, com vibração também em Obaluaiê
e Nanã Buruquê.

    Zezinho é um menininho risonho, de olhos brilhantes, sorriso largo
e muito meigo.

    Trabalhador pela caridade nos terreiros de Umbanda, trazendo a
irradiação de Iemanjá para os filhos que buscam auxílio.

    Eles trabalham fazendo a caridade, trazendo saúde para o corpo físico,
paz para as famílias, quebrando magias, e faz isso tudo brincando como
criancinhas bem normais..

    Rosinha e Zezinho eram irmãos e tiveram suas vidas encarnadas no
início do século XX na Região Sudeste do Brasil. E nessa região
demonstraram que o amor e a caridade de uma criança podem estar muito
distante do entendimento dos seres humanos.

    Filhos de um sargento da polícia militar e de uma enfermeira
inglesa, Rosinha e Zezinho cresceram acompanhando um grande impasse
entre os pais. A mãe era a cuidadora dos doentes, independente de raça
ou posição social, e o pai era chefe de um departamento da polícia que
caçava os negros que viviam amontoados nos morros longe da elite
branca.

    Com isso era constante as brigas e discusões entre os pais das
crianças, que observavam tudo aquilo sem entender muito o que se
passava.

    Certo dia as crianças voltando de uma casa de orações com a mãe se
depararam com uma jovem negra desesperada levando uma criança de
alguns meses de vida aos braços. Essa criança em estado muito febril,
tinha seu pequeno corpo inerte, enquanto a jovem, que era sua mãe
chorava desesperadamente pedindo socorro, que alguma boa alma salvasse
sua criança.

    A mãe de Rosinha e Zezinho, sem pestanejar, pegou a criança ao
colo, e seguiu com ela e a jovem para a própria residência.

    Chegando lá, se utilizando de seus dotes de enfermagem, fez
compressas, medicou, alimentou a criança e a mãe. Deixando-as em um
dos quartos da grande casa que residiam.

    Pediu descrição as crianças, pois de modo algum o marido poderia
saber que ali se encontrava uma negra e seu filho.

    A jovem mãe e seu filho ficaram por muitos dias escondidos na
residência da enfermeira, que com ajuda de seus filhos conseguiu
esconder todo acontecido do severo sargento.

    A criança voltou a ter sua saúde restabelecida, e assim a jovem
mãe, extremamente agradecida partiu para o alto do morro novamente.

    Aquelas cenas de caridade ficaram marcadas nas mentes da menina
Rosinha e do menino Zezinho, e longas conversas se iniciaram entre os
dois sobre o acontecido.

    Após essas conversas, as crianças decidiram que iam ajudar os
moradores dos morros, e para isso teriam que ir a esses morros. Mas
nunca imaginaram que ali estava se iniciando o caminho desses anjos
rumo a evolução extrema, ao ponto de serem abençoados a se tornarem
Entidades de Luz.

    Decidiram também não falar com a mãe sobre essa vontade de
lutarem para auxiliar os menos favorecidos, pois caso o pai
descobrisse, a mãe deles não poderia ser responsabilizada, além de
acharem que a mãe os impediria em sua jornada por ela entender que
seria de extremo perigo. Assim como de fato era mesmo.

    Com a ideia na cabeça e a caridade no coração, as crianças
começaram a busca incansável de alimentos, roupas, remédios e tudo
mais que pudesse auxiliar os moradores dos morros.

    Fizeram um amontoado de coisas, e decidiram que antes de levar
algo, deveriam saber onde levar e para quem levar, e foi assim que os
dois saíram as escondidas pelas ruas da cidade.

    Em tons de infantilidade e brincadeira, riam, cantavam e
demonstravam a felicidade de estarem nessa aventura tão empolgante e
gratificante para ambos.

    Na chegada a entrada do morro, avistaram muitos homens de farda,
fardas iguais a do pai deles. Ficaram um pouco receosos de encontrar o
sargento, mas notaram que ele não estava ali. Respiraram fundo e
disfarçadamente, sem chamar atenção dos guardas foram andando devagar,
sem alarde, até que ficaram de frente com a grande subida íngreme, e
correram em disparada, como se estivessem sendo perseguidos por um
batalhão de guardas.

    Após alguns minutos já estavam no centro do morro. E passaram a
observar tudo ainda escondidos aos troncos de árvores.

    Viram muitas crianças negras brincando de pega pega, que lhes deu
muita vontade de brincar também. Viram as mulheres com latas de água
na cabeça, homens em alguns afazeres, barracos, muita pobreza.

    Ficaram parados sem saber exatamente o que fazer, um tanto
atônitos com uma realidade desprezível que eles jamais imaginavam que
existia.

    Em um dado momento o menino Zezinho quebra o silêncio e diz a sua
irmã Rosinha, já indagando, que ele não entendia o porque seu pai, o
sargento da polícia, queria pegar e maltratar essas pessoas.

    Ela também sem entender o porque desse fato, simplesmente balançou
a cabeça e os ombros, demonstrando sua negativa.

    Ficaram ali por algum tempo ainda escondidos observando, quando
algo inusitado os chamou atenção. Uma menina da base da idade dos
irmãos, apoiada em um pedaço de madeira, saltava com o pé levantado,
enquanto na outra mão trazia uma vasilha. Ela foi assim saltitando até
uma pequena bica de água, encheu sua vasilha e já ia dando meia volta
para o local de onde veio, quando se desequilibrou e caiu. Toda a água
caiu sobre a menina, que segurando sua perna chorava copiosamente.

    Os dois correram ao socorro da pequena menina negra, que ao ver os
dois irmãos se assusta. E eles explicam que queriam ajudar a ela a se
levantar, e levá-la para onde desejasse.

    Ela diz que precisa pegar água, pois sua mãe está muito doente, e
ela está sozinha. Com isso as crianças a ajudam a caminhar e a levar a
água até a sua mãe.

    Ao entrarem no pequeno barraco de madeira, se deparam com uma cena
lastimável, uma mulher negra deitada ao chão, em estado febril, com
uma magreza cadavérica. Sobre sua face moscas pousam sem que ela
pudesse reagir.

    Rosinha cai em um choro de desespero, sendo consolada por seu
irmão. Aquela cena seria o estopim para que ambos não recuassem na
decisão de tentar ajudar aquelas pessoas, mesmo com o mínimo que
conseguissem.

    E assim começaram sua jornada heroica, pelas vielas, as
escondidas, levando sustos, mas vencendo todas as barreiras, com muita
boa vontade, caridade e sempre com um sorriso no rosto e brincadeira
entre ambos.

    Dia após dia, as duas crianças saiam escondidas de casa,
carregando alimentos, roupas, remédios, e tudo mais o que conseguissem
arrumar para aliviar as dores de seus novos amigos moradores dos
morros.

    Davam preferência em ajudar as crianças, os doentes e os idosos.
E esses em eterna gratidão os chamavam de Anjos de Oxalá.

    O pai das crianças, o sargento da polícia, que tinha como objetivo
não deixar os negros "invadirem" a dita cidade da elite, desconfiou
das saídas escondidas das crianças, e passou a segui-las, e não
demorou muito para entender o que estava acontecendo. Ele ficou
furioso, castigou as crianças, culpou a esposa por não estar a par do
fato, e decidiu deixar os filhos em cárcere privado até eles
entenderem que os negros não deveriam se misturar com os brancos e com
a dita classe elitizada.

    Mas eles não se fizeram de rogado, tinham um objetivo, tinham uma
missão a cumprir, e iam cumprir. Crianças com o coração flamejando de
amor e caridade, crianças que não aceitavam que algumas pessoas
pudessem se achar melhores que as outras pela raça, cor ou posição
social. Crianças com a idade cronológica infantilizada, mas a idade
mental de um adulto guerreiro e caridoso.

    Após várias tentativas de fuga, eles conseguem seu objetivo, sair
do cárcere e novamente partir para ajudar aos necessitados.

    E após as crianças conseguirem roupas, alimentos, remédios, entre
outras coisas com muitas das crianças caridosas filhos da elite
branca, partiram para a jornada de mais um dia de missão no morro.

    Ao chegarem viram com olhar desesperado vários soldados fardados
atacando cruelmente homens, mulheres e crianças, sem o menor
sentimento de culpa.

    Em um dado momento eles viram a menina que conheceram na primeira
vez que estiveram no morro, ela estava caída, ensanguentada, e como
não podia correr pelo seu problema que tinha na perna, virou alvo
fácil dos algozes soldados assassinos.

    O menino Zezinho se escondendo e disfarçando chega até a menina
negra e a leva para um lugar seguro. E dessa forma decidiram fazer com
todas as crianças que naquele momento sofriam agressões por parte dos
soldados.

    Viram um barracão no fundo de uma viela, onde os negros se
encontravam para fazer suas orações aos Orixás. Esse barracão ficava
um pouco mais afastado do centro da confusão em massa, e os irmãos
decidiram que ali eles poderiam esconder as crianças.

    E assim fizeram, saíram em busca de todas as crianças que
encontravam pelo caminho, tentando de todas as formas se esconderem
dos homens fardados.

    A cada criança que encontravam, para eles era uma vitória, sabiam
que era uma vida inocente que tentavam salvar das garras da
intolerância.

    Entre o desespero, o corre corre, tiros dados pelos soldados,
sangue por todos os lados e o cheiro de morte, as crianças ficaram
receosas. Mas mesmo com muito medo, eles tinham a concepção de que
deviam tentar, deviam buscar as crianças. E assim fizeram durante um
tempo, pegavam crianças de todas as idades, e levavam para o
barracão, que para os negros era um local sagrado.

    Em certo instante, os irmãos trazendo duas meninas, ambas
machucadas, chorando copiosamente, observam algo que os levaram ao
desespero extremo. Diante do barracão, o pai de ambos, ordena a seus
soldados que incendeiem o que ele chamava de "amontoado de madeira que
protegiam os porcos". E que não deixassem nenhum deles vivos, se caso
tentassem fugir das chamas, que fossem alvejados pelas armas de fogo
dos soldados.

Quando atearam o fogo ao barracão, a fumaça negra e sufocante se
espalhou, tomando conta de todo ambiente interno e externo, fazendo
assim as crianças que estavam escondidas no recinto buscar uma maneira
de respirarem para sobreviver. 

    A porta de madeira se abre rangendo, e dela a primeira criança
aparece, era justamente a menina que os irmãos teriam conhecido
inicialmente, ela tenta sair se arrastando, tossia muito, e a fumaça
queimava seus olhos.

    No mesmo instante os soldados já apontavam seus mosquetões para a
porta de saída. A menina desaba em frente ao barracão e em meio da
fumaça negra. Os soldados impiedosos se preparam para ceifar a vida da
criança, os irmãos correm ao encontro da menina negra, chegam a ela,
se abraçam, e os soldados atiram as cegas pela grandeza da fumaça que
não os deixavam ver quem era ali caídos ao chão. E atiraram sem
piedade, sem a mínima compaixão.

    As munições flamejantes alcançam os corpos das três crianças, que
ainda abraçados, choravam.

    Seus olhos lacrimejados se cerravam pouco a pouco, o sangue dos
três se misturavam ao escorrer no chão de terra. A fumaça se
dissipava, e com isso os soldados atônitos ao ver as crianças brancas
caídas ao chão sem vida juntamente com a menina negra.

    Nesse momento o sargento vem ao local do acontecimento e se depara
com seus dois filhos já sem vida, ele não entende o que ocorreu, e
como se estivesse louco de dor e desespero se joga sobre os três
corpos inertes das crianças.

    Com a cena inusitada, os soldados não se deram conta que todas as
outras crianças fugiam pelas vielas do morro, buscando assim salvarem
suas vidas. Quando de repente como por magia pararam e retornaram,
indo novamente até o barracão em chamas. Alguns começaram a empurrar
o sargento, enquanto outros tentavam tirar as crianças dali, achando
que assim poderiam salvar a vida de seus Anjos de Oxalá.

    Quando notaram que as crianças já estavam sem vida, começaram a
rezar, se ajoelhando, um a um,  em frente ao corpo das três crianças.

    Alguns soldados apontaram seus mosquetões para as crianças, e o
sargento interveio, e num grito de ordem e desespero, manda que todos
os homens de farda se afastassem.

    Com a voz abafada pelo choro, ele diz que entende agora a dor de
perder um filho, e que nunca mais levantaria um só dedo contra os
negros do morro. Pois se os filhos deles, que eram apenas duas
crianças no início da vida entendia que era errado essa caçada
injusta, ele devia entender também, e a partir daquele dia seria um
dos grandes defensores de toda essa gente.

    As crianças se mantinham em oração e ajoelhadas. Dezenas delas.
Outros negros chegavam, e sem dizer nada, apenas se ajoelhavam e
rezavam aos Orixás.

    Um velho negro, de fala mansa, olhar sereno, apoiado a um cajado
de madeira, se aproxima. Vai até diante das três crianças, faz uma
pequena oração e diz:

    "Que Oxalá, nosso Pai, mande seus Orixás para encaminhar para a
luz da caridade e da espiritualidade, essas crianças de luz. O
espírito da criança
que tem que ainda passar por essa vida para sua evolução seja entregue
aos encaminhadores que tem como missão levar essa alma aos braços do
Senhor, para que entenda e evolua. E as crianças que são chamadas de
"Anjos de Oxalá" que sejam entregues aos seus Orixás irradiadores,
para que assim possam voltar com a vibração desses, e continuar  a
fazer a caridade que foi iniciada nessa terra."

    Diante dos olhos de dezenas de negros, soldados e do sargento pai
das crianças, duas imagens brilhantes apareceram. Uma era um senhor
idoso, olhar baixo, sem expressão no rosto, vestido com vestes nas
cores branca e preta, com um longo cajado na mão. E a outra era uma mulher
linda, de cabelos longos, olhar maternal, vestida de azul claro. Ambos
levantaram as mãos em direção aos irmãos, e para a surpresa de todos,
mais duas imagens iluminadas apareceram juntos as duas anteriores.

    Eram as imagens dos irmãos. A menina se encontrava sorridente,
saltitante, linda como a rosa. O menino estava com um sorriso largo,
segurando no braço da mulher, como que se pedisse proteção, sua roupa
era azul como o mar e seus olhos brilhavam como a estrela Dalva.

    O facho de luz foi elevando as quatro imagens, que foram se
distanciando, virando apenas pequenos vultos, até desaparecerem
diante de todos.

    O sargento se joga ao chão de joelhos juntamente com os negros, e
no meio de lágrimas se entrega as orações.

    O velho negro que se encontrava de pé, abre os braços, e salda o
Velho Omulú e a linda Iemanjá, os agradecendo por fazerem dos "Anjos
de Oxalá", Entidades de Luz, que trabalhariam na linha das Ibeijadas,
levando a paz, o amor, a saúde e a caridade a todos os necessitados.

    E hoje nos terreiros de Umbanda essas duas crianças de luz
trabalham, ela em irradiação com Pai Omulú, curando enfermos,
trazendo harmonia, levando paz, quebrando magias, com suas pipocas
sagradas, com seus trabalhinhos de luz. E ele em irradiação com Mãe
Iemanjá, trazendo saúde, abrindo caminhos, retirando males, com suas
conchinhas sagradas, com suas orações. Sem esquecer de suas
brincadeiras de criança, de suas travessuras, de suas guloseimas,
como doces, balas, pipocas, água doce e frutas.

    Essas são as crianças de luz, os Anjos de Oxalá, os enviados a
fazer a caridade por Pai Omulú e Mãe Iemanjá.

    Salve Rosinha de Omulú!

        Salve Zezinho da Praia!

    Salve todas as crianças de Umbanda!

    Oni Ibeijada, que proteja sempre nossa caminhada.






HISTORIA DE XANGÔ E YANSÃ

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