Nanã é considera por
todos os adeptos do Culto Vodum como a grande Mãe Universal que criou o mundo e
deu vida aos Voduns. É chamada carinhosamente de vó Misan (missam).
Senhora da lama,
matéria primordial e fecunda da qual o homem em especial, foi tirado. Mistura
de água e terra, a lama une o princípio receptivo e matricial (a terra) ao
princípio dinâmico da mutação e das transformações. Sua ligação com a água e a
lama, associa Nanã à agricultura, a fertilidade e aos grãos (vide simbologia
dos grãos e favas).
Nanã tem os mais
variados nomes de acordo com o dialeto usado: Bouclou, Buukun, Buruku, etc. Em
Dahomey, na cidade de Domê onde está localizado seu principal templo, Ela é
conhecida como Nanã Buruku (lê-se, buluku).
No Brasil, também
existem variações de nomes para Nanã: Buruku, Naê Naité, Yabainha, Naê,
Anabiocô, etc.
Nanã representa a
dogbê (vida) e a doku (morte). Ela recebe em seu seio os ghedes (mortos) e os
prepara para o leko (lêcô - retorno, renascimento)
Quando uma mulher não
consegue engravidar, recorre a Nanã que ensina a "fórmula mágica", o
remédio de ervas que deve tomar, os ebós e oferendas que devem ser feitos.
Se um doente recorre a
Nanã, imediatamente obtém o remédio curador.
Na África quando uma
família ou alguém obtém um favor de Nanã, fica com o compromisso de oferecer um
membro da família ao culto de Nanã e esse, após sua iniciação, receberá na
frente de seu nome a palavra Nanã; assim como a criança que nasce com a ajuda
da Grande Mãe também. Todos os sacerdotes e sacerdotisas de Nanã têm na frente
de seus nomes a palavra Nanã.
Nanã é a maior
conhecedora do uso terapêutico das ervas. Alguns de seus sacerdotes e
sacerdotisas são preparados para serem curandeiros. Em Ghana existe a Sociedade
dos Jou-Jou, em Allada e Dahomey a Sociedade do Bo, etc.. Nessas sociedades as
pessoas escolhidas são preparadas para a prática da medicina através das ervas.
Nanã diz que além do uso terapêutico das folhas e de alguns produtos animais,
as doenças devem que ser tratadas em sua origem espiritual, para que a cura
seja concretizada. É lastimável que no Brasil essa parte do culto a Nanã não
tenha sido trazida. Em outros países como Estados Unidos, Canadá, Jamaica e
Haiti encontramos essa prática.
O Culto de iniciação
de uma filha ou filho de Nanã requer uma série de cuidados especiais, tanto na
África, como no Brasil. Para mim, esse é o mais difícil culto de Vodum. Nanã
Buruku não é feita na cabeça de ninguém.
Existem vários Voduns
da linhagem de Nanã Buruku, que são feitos nos iniciados. Todos esses Voduns
seguem a tradição de Nanã Buruku e são tão exigentes quanto Ela.
Para iniciar um
processo de feitura de uma Nanã, é exigido a abstinência de sexo, bebidas
alcoolicas e outros prazeres carnais, pelo menos dois meses antes (na África
são exigidos 3 meses), de todos que irão participar do processo de renascimento
do iniciado. Nesse período, são feitos vários ebós no iniciado e alguns poucos
nos participantes e na casa de santo.
A bogami (bôgâmi -
menstruação) é outro beko de Nanã. Se durante o processo de iniciação a vodunsi
ficar menstruada, deve ser afastada imediatamente de Nanã e ficar reclusa em um
lugar especial, fora do templo, até que cesse esse período.
Na África as mulheres
menstruada são proibidas de entrar no Templo de Nanã ou de participar de
qualquer preceito, seja de rituais ou simplesmente fazer uma comida de santo.
Nanã diz que a bogami é um sangue impuro e aconselha as mulheres não cozinharem
para seus maridos nesse período.
Por ter muita ligação
com egungum é necessário saber tratar muito bem de Buku, entidade assistente de
Nanã e Sakpata. Em uma feitura, não é permitido a sua presença, mas, ele deve
ficar aposto, sua função será tomar conta de todos, para que nenhuma exigência
da Grande Mãe seja desobedecida, principalmente a abstinência de sexo.
Assim como Buku, Legba
Aghamasa (agramassá) devem ser tratados corretamente para garantir a paz,
tranqüilidade e segurança nos rituais e preceitos. Ebós e oferendas específicas
devem ser feitos para essas duas entidades.
Os ancestrais dos Voduns,
do iniciado, dos participantes e da casa de santo não podem ser esquecidos em
hipótese alguma!
Antes, durante e
depois da iniciação de uma Nanã devemos fazer muitos ebós, oferendas e
preceitos. Uma Nanã bem feita é caminho de prosperidade e crescimento para a
casa de santo, do iniciado e dos participantes.
De acordo com a Vodum
Nanã que está sento feita ou cultuada é que se determina, se comerá bichos
macho ou fêmea. Existem Voduns dessa linhagem que não comem bicho de quatro
pés, outros preferem comer somente o Igby. Nanã Buruku, por exemplo, não gosta
de muito kun (sangue)
Vários textos têm sido
publicados, citando o carneiro como o bicho oferecido a Nanã, mas, se
observarmos as fotos que acompanham esses texto, veremos que se trata de cabra
e cabritos. O sacrifício de carneiro é o maior beko (kisila) de Nanã. Para essa
Vodum, o carneiro é um bicho sagrado e não deve ser sacrificado.
O não uso da faca e
outros metais nos nahunos e preceitos de Nanã devem-se ao fato de Ela ser muito
mais velha que esses metais. Por seu caráter conservador, quando o ferro e
outros metais apareceram, ela preferiu manter o que já conhecia em seus ritos.
Vejamos abaixo alguns
dos Voduns da linhagem de Buruku. e algumas curiosidade ligadas a Grande Mãe.
Nanã Densu ou apenas Densu
– Segundo os Fons esse Vodum é um deus andrógino e seria o lado macho ou marido
de Buruku. É muito cultuado nos rituais de Mami Wata onde é considerado o maior
de todos os deuses, os Fons o compara a Olokun.
Muitos antropólogos
têm atribuído erronêamente Densu a um deus hindu, devido seus fetíches e
assentamentos apresentarem três cabeças.
Esse Vodum é muito
rico e farto. Costuma presentear seus adeptos com suas riquezas.
Não é feito na cabeça
de ninguém.
Nanã Asuo Gyebi (assuô
giêbi) – Vodum masculino velho, que habita os rios. Muito popular em Ghana e
tido como o protetor das crianças africanas que foram escravizadas. Esse Vodum
pediu aos seus sacerdotes que o levasse para os países onde os africanos foram
escravizados afim de que pudesse resgatar suas crianças. Ele já foi assentado
em templos de Akonedi nos Estados Unidos e no Canadá.
Nanã Esi Ketewa (êssi
quetêuá) – Vodum feminina muito velha, cultuada em Ghana, Cotonou e Allada.
Dizem os mais velhos que essa Vodum morreu de parto e que por isso a missão
dela é proteger e tratar as mulheres grávidas assim como seus filhos Nanã Adade Kofi (adadê
côfi) – Vodum masculino, tem a função de proteger e defender todos os templos
de Nanã. É um Vodum guerreiro, ligado ao ferro e outros metais. Cultuado em
Ghana, Allada, Cotonou, Porto Novo, etc. É o Vodum da força e perseverança. Sua
espada é usada pelos adeptos de Nanã, para prestarem juramentos de obediência,
submissão e devoção a Grande Mãe.
Nanã Tegahe (têgarê) –
Vodum feminina jovem, cultuada em Ghana. Tem o poder de tirar feitíços das
pessoas e lugares. Tem grande conhecimento no uso terapêuticos e ritualísticos
das ervas. Muito alegre e faceira, gosta de dançar e cantar, mas fica muito
séria e aborrecida quando encontra malfeitores e ladrões; ela os mata.
Nanã Obo Kwesi (obó
cuêssi) – Vodum feminina guerreira, cultuada na região Fanti em Ghana. Protege
e ajuda os kuhatô (pobres) e os azon (doentes). Detesta quem faz aze (azê -
bruxarias) ou qualquer mau a um ser humano.
Nanã Tongo ou Nanã
Wango (tongô/uangô) – Vodum feminina, cultuada em Togo. Grande curandeira,
trata das pessoas com ervas, ebós e gri-gris. É uma grande Azeto (azétó -
feiticeira) e seu culto talvez seja um dos mais complexo. Em seus nahunos, os
sacerdotes prostam-se no chão ao lado dos bichos mortos e fingem estarem mortos
também, assim permanecem até que Wango incorpore em um deles e os ressuscite.
Todos levantam, os bicho são suspensos e preparados.
Nanã Tongo dança com
muita alegria, vestida em suas roupas confeccionadas com as peles dos bichos
sacrificados para ela. Seus adeptos costumam presentear Wango com muitas jóias,
enfeites, roupas e talismãs que a agradam. Antes de começar os nahunos para
Wango, corujas são atadas às árvores.
Nanã Akonedi Abena –
Vodum feminina jovem, cultuada em diversas partes da África. Seu principal
templo fica em Later, cidade de Ghana. Quando Akonedi chega ela percorre a
vila, esconde-se em arbustos e sobe em telhados à procura de feitíços,
feiticeiros e malfeitores. Atende os moradores locais, fazendo libações e
curando os doentes. Em Ghana é considerada a Deusa da Justiça.
Seu corpo é coberto
com um pó branco sagrado, usa saia de palha, seu rosto é descoberto, na cabeça
usa um torço, no corpo muitos brajás e nas mãos trás um feixe de lenha.
Sua dança é selvagem e
desenvolve-se dentro de um quadrado divino, dividido em outros quadrados
menores feito com riscos do mesmo pó que cobre seu corpo. Esse conjunto de
quadrado também é usado por suas sacerdotisas durante as danças.
Seu assentamento fica
em um buraco dentro da terra, ficando somente a tampa deste aparecendo.
Os sacerdote e adeptos
de Akonedi carregam-na nos ombros numa espécie de desfile, para que todos
possam admirar e louvar a grande deusa da Justiça. Terça-feira é o dia
consagrado a essa Vodum.
O Culto de Akonedi foi
levado para alguns países, a pedido dos governantes desses. Quem levou o culto
de Akonedi para o novo mundo foi a maior autoridade religiosa do culto, Nanã
Oparebea Akua Okomfohemma, falecida em 1995.
Mmoetea – Aldeia de
pigmeus que vivem nas florestas de Ghana. Formam uma sociedade secreta
especializada no uso das ervas para diversos fins. Desenvolveram a capacidade
de curar qualquer doença física, mental e espiritual. Trabalham com os
espíritos da natureza e seu maior deus é Nanã. Os espíritos da floresta deram
aos Mmoeta o poder de ler a mente dos homens e dos animais. São grandes
curandeiros e poderosos feiticeiros.
Buku – Assistente de
Nanã e Sakpata que mata os doentes infectados pela varíola. “Toma conta e
presta conta” do comportamento moral das pessoas durante os cultos de Nanã e
Sakpata.
Legba Aghamasa – Vodum
Legba masculino, reina nos portais da morte onde reside Nanã Buruku.
Odom – Bolsa feita com
pele de cabra não curtida, enfeitada com búzios, penas e sangue. Nessa bolsa
são colocados os gris-gris venenoso e não venenoso que decidem uma questão de
justiça. Quando duas pessoas brigam pela mesma “coisa” e recorrem a Nanã para
saber quem tem razão, sua sacerdotisa pede um galo a cada um dos queixosos,
quando esses animais chegam, esses gris-gris são oferecido aos animais. O galo
que comer o venenoso, o dono dele perde a causa. Além desses gri-gris, outros
segredos de Nanã são guardados na Odom.
A Odom fica sempre nos
pés do assentamento de Nanã, nunca vai a público e não pode jamais ser tocada
por homens.
Abuk (abuquê) – De
acordo com a cultura Fon, foi a primeira mulher a surgir. Patrona das mulheres
e dos jardins, seu fetíche é uma pequena serpente. (teria alguma coisa a ver
com Nanã?!!)
Asase (assassê) –
Deusa da criação dos homens e receptadora dos mesmos na morte. Cultura Ashanti.
(Seria a mesma Buruku?!)
Atori (atôli) – Vara
ou haste simbólica de Nanã, representa seus filhos mortos e os ancestrais.
Todos esses Voduns
usam muitos kpolis (quipôlis - búzios) e palha, dificilmente cobrem seus
rostos.
Falar ou escrever
sobre Nanã é uma tarefa das mais difíceis, pois são tantas as história a ser
contadas, que somente um livro poderia caber.
Todos os adeptos do
Culto Vodum, devem prestar muita reverência a Nanã. Em seus cânticos e danças
devemos nos alegrar e nos sentirmos honrados em poder, aqui no Brasil, participar
dessa parte que na África é reservada somente aos seus sacerdotes e
sacerdotisas.