terça-feira, 1 de agosto de 2017

Conhecendo a Linha dos Caveiras

Ê, Caveira, firma seu ponto na folha da bananeira, Exú Caveira! 

Quando o galo canta é madrugada, Foi Exú na encruzilhada, batizado com dendê. 

Rezo uma oração de traz pra frente, Eu queimo fogo e a chama ardente aquece Exú , Ô Laroiê. Eu ouço a gargalhada do Exú, É Caveira, o enviado de Pai Oxalá. 

É ele quem comanda o cemitério, Catacumba tem mistério, seu feitiço tem axé. Ê Caveira! Ê, Caveira, afirma ponto na folha da bananeira, Exú Caveira! Na Calunga, quando ele aparece, Credo em cruz, eu rezo prece pra Exú, dono da rua. 

Sinto a força deste momento, e firmo o meu pensamento nos quatro cantos da rua. E peço a ele que me proteja, Onde quer que eu esteja ao longo desta caminhada. Confio em sua ajuda verdadeira, Ele é Exú Caveira, Senhor das Encruzilhadas.

Ê Caveira ! Ê, Caveira, afirma ponto na folha da bananeira, Exú Caveira!      

Muitas pessoas não compreendem bem a linha dos Caveiras, talvez pela extensa falta de informações, talvez pelo nome, talvez por colocarem essa linha em algo sobrenatural, enfim, por vários motivos e razões as pessoas, inclusive muitos umbandistas temem, evitam, e não compreendem o trabalho de caridade dessas Entidades de Luz, conhecida como Exús da linha de Caveira.     

Mas ao entendermos essa linha de trabalho, podemos notar que essas Entidades sofrem uma grande demonstração de intolerância por parte de muitos seres humanos, que tem uma mente vazia, sem informações adequadas e verdadeiras, levando essas pessoas a temerem, não aceitarem, e se afastarem dessas Entidades maravilhosas e sublimes, que trabalham em prol da caridade em centenas e centenas de terreiros espalhados por todo canto.     

O receio por essas Entidades nada mais é que a ignorância de julgarmos algo ou alguém pela aparência, de não tentarmos entender o porque das coisas, de não nos deixarmos refletir sobre a vida e os caminhos tomados para chegar em certas situações.     

Para iniciarmos esse texto, gostaria de frisar muito bem um detalhe, todas as Entidades de Luz, que levam o nome de Caveira, sejam elas da linha masculina ou feminina, lutaram com muita dedicação, honestidade, amor e fé pelas causas de Deus. 

Tomaram para si a missão de demonstrar aos seus seguidores as palavras de esperança e fé enviadas por Deus (Zambi), por Jesus Cristo (Oxalá), e por todos que pregavam a paz, o amor e esperança.     

Contudo essas maravilhosas Entidades, que quando na vida terrena, poderíamos chamá-las de Profetas e Profetisas , tinham um inimigo em comum, independente da região que elas pregavam os caminhos para a luz e a esperanças das pessoas que buscavam novos caminhos, esses inimigos eram os grandes imperadores, que reinavam com mão de ferro, e não aceitavam que nenhuma pessoa, chamadas de pessoas comuns, escravos, ralé, entre outros sinônimos dados aos menos favorecidos, tentassem demonstrar alguma coisa diferente as leis sangrentas desses imperadores insaciáveis pelo poder.     

Certamente quando aparecia alguém que colocava sua fé e suas esperanças acima das leis desses imperadores, a sentença era uma só, a morte.    

Voltando agora a nosso tema, a linha dos Caveiras, vamos deixar claro, que todos dessa linha, sem exceção, eram distribuidores das graças e das palavras de Deus, cada um deles  com sua própria história, dentro de seu tempo, de sua região, lutando contra leis injustas e sangrentas, e claro, cada qual sendo perseguido por seu algoz, sendo eles imperadores, governadores, senadores, enfim, aquele que dominava a região, normalmente pela força, escravizando povos e povos, pelo simples fato de se sentirem os mais poderosos deuses da face da terra.    

Muitos que hoje se encontram em trabalho de caridade no reino espiritual e dentro da linha dos Caveiras, foram tomados como "falsos profetas", e com isso perseguidos intensamente por esses ditos poderosos.     

Todos esses perseguidos, quando capturados, tinha um julgamento feito em praça pública, diante de todo o povoado, e nesse julgamento, coordenado pelo poder maior da região, eram dado duas opções ao réu, entre as opções estaria a de dizer diante de todos que não existia um Deus, que o poder divino eram de deuses, e esses deuses eram os senhores do Império. e claro que assim os poderosos cresciam diante de todo povo como únicos soberanos, no qual apenas suas leis eram válidas, destituindo a ideia de um Deus único que era Pai Supremo de toda a terra.     

A outra opção era não renegar o Deus único, mostrar que dentro do ser de cada um existia sim uma força poderosa, a fé, a verdadeira fé que levaria cada um aos braços desse senhor único. Mas, ao escolherem essa opção, todos sabiam que uma sentença cruel era dada sem a menor chance ao condenado, o pregador da fé, era considerado como feiticeiro, que era adepto a bruxarias, e deveria ser queimado vivo na fogueira em praça pública, para assim servir de exemplo a toda a população.     

Todos da linha dos Caveiras, jamais renegaram o nome de Deus, entregaram suas vidas, sendo queimados nas brasas ardentes, mas sempre elevando sua fé em nome do Pai Supremo.     

Fogueiras eram armadas nas praças, no centro delas um mastro, tipo um tronco de torturas de escravos. Profetas e Profetisas eram amarrados nesse tronco, diante deles um algoz carrasco aguardava as ordens finais dos imperadores sanguinários, que antes de mandar executar o condenado queimando-os vivos, ainda faziam a última pergunta aos réus, para demonstrar além do poder sobre tudo e todos, mostrar ao povo mais carente que não devem abraçar causas do Deus único, pois para esses imperadores só existiam os deuses do Império, ou seja eles mesmos.     

Antes da execução da pena, gritavam em alto e bom som se o condenado desejava renegar as suas crenças, e obedecerem aos deuses do Império, mas mesmo tendo a certeza de uma morte dolorida e de extrema covardia, nossos queridos Profetas e Profetisas renegavam com veemência os imperadores que se julgavam deuses.     

Com isso a sentença era imposta, e nossos heróis da fé eram queimados vivos, tendo suas carnes se desprenderem de seu esqueleto, fazendo assim com que ao serem retirados dali, seus rostos, mãos, pés e todo o corpo pudessem transparecer apenas os ossos, com algum sinal da carne dilacerada. 

Todos esses condenados, que não renegaram sua fé, que antes lutavam contra os imperadores para trazer as seus seguidores uma vida sem humilhações, sem fome, sem escravidão, foram abraçados pelo Deus único, que os abençoaram com a divindade de voltarem aos trabalhos de caridade aos menos favorecidos, e essa volta a caridade foi feita com a irradiação espiritual da linha abençoada, chamada da linha dos Caveiras.     

Esses trabalhadores dessa linha de fé, com seu grandioso poder de humildade e fé, fizeram um pedido a Zambi, que viessem aos trabalhos de caridade com a aparência de sua última passagem na vida terrena, no instante de seus desencarnes, para que assim demonstrassem a intolerância e a covardia que sofreram enquantos encarnados, por parte dos imperadores da época, para que assim não fosse esquecido toda aquela arrogância e maldade, e assim não deixar crescer novamente a ideia de deuses do império, julgando, condenando e assassinando aqueles que só tinham no coração a bondade, a distribuição da esperança, a elevação da fé e o amor e dedicação ao Deus Único.     

Por esse motivo é que essa linha de luz leva o nome de Linha dos Caveiras, e todos que nela trabalham levando a fé, amor e esperança, tem a aparência de um esqueleto. Portanto não tem nada a ver com que muita gente sem informação prega, dizendo que quem trabalha com essa linha, trabalha ao lado do mal, trabalha a favor da morte, trabalha para feitiçarias ou bruxarias. 

Essa linha trabalha exclusivamente para e pela caridade em nome de Zambi (Deus) e de todos os Orixás.     Como foi dito acima cada Entidade de Luz dessa linha, tem sua história no tempo de encarnado, assim como todas as Entidades trabalhadoras. Dentro dessa linha temos alquimistas, generais, padres, condes e muitas pessoas do povo, que se entregaram a sua fé e lutaram para mostrar a todos um Deus benevolente, amável e caridoso, extremamente diferente dos deuses do império.     

Abaixo relacionamos alguns trabalhadores dessa linha para entendimento e esclarecimento. Exú Caveira: Foi um padre no século VII. Deixou o sacerdotismo no catolicismo por não entender o domínio dos Imperadores sobre a igreja, mesmo a igreja pregando o nome de Deus, se curvavam aos deuses do império. 

Assim partiu pregando o Deus único ao povo europeu, e foi condenado a morrer na fogueira no ano de 897 DC. Tatá Caveira: Foi um agricultor e pastor de cabras e ovelhas na região do Egito, durante o século V. Tinha a ideia de pregar o amor do Deus único a todo o povo da região. Por esse motivo a aldeia onde ele vivia foi invadida pelos soldados do império, muitos foram mortos e dezenas aprisionados. 

Dentre esses aprisionados, se encontrava Tatá Caveira, que nessa época tinha o nome de Próculo, em homenagem a um conhecido chefe da guarda romana, junto a ele foram presos também mais 49 seguidores da crença em um único Deus, todos julgados, condenados e queimados na cruel fogueira da intolerância. E assim foi dada a origem de senhor Tatá e sua legião de 49 Exús da linha de Caveira. João Caveira: foi um fiel conselheiro de um senhor feudal na idade média. Em um certo período, tendo ele que dar uma opinião em um caso muito complicado no feudo, devendo ele dar um parecer para que fosse decidido a questão, sendo esse fato algo que se fosse favorável, de uma forma, agradaria a todos os senhores, e de outra forma ajudaria a todos os desafortunados da região, fazendo assim a justiça acontecer naquela região sobressaltada de injustiças. Porém ao escolher o lado dos desafortunados, fez nascer a ira dos senhores feudais, que após algum tempo de uma caçada implacável, foi capturado, julgado e condenado a fogueira. Rosa Caveira: Viveu encarnada por volta do século XXXIV, sendo ela esposa de um renomado Senador Romano, que se utilizava do poder que tinha para demonstrar força e prepotência sobre o povo judeu, que fora escravizados pelo império. Rosa Caveira, que na época era conhecida como Rosa Postumio, não compartilhava com as ideias assassinas dos nobres daquela região. 

Tinha no coração a bondade, a humildade, o amor pelo semelhante, coisa que era heresia nesse tempo. Foi vista pelos servos e escravos como uma benfeitora, uma verdadeira heroína. Ficou reconhecida por auxiliar, lutar e cuidar dos escravos. Com isso o grande império, determinou que ela fosse presa, contudo com o renome de seu esposo Senador, conseguiu a liberdade, com a promessa de que se tentasse novamente auxiliar os menos favorecidos, seria condenada a morte. 

Ela não obedecendo, retornou a caridade, e assim, foi presa, julgada e condenada a fogueira, e seu esposo preso. Doutor Caveira ou Sete Caveiras: Viveu entre os Gauleses pelos meados do ano 700 A.C, e tinha já nessa época o dom de curar enfermos. Porém era mantido em cárcere pelo império, sendo ele obrigado a só utilizar seus dons em nobres, em guerreiros, ou em quem fosse autorizado pelo império, que lamentavelmente não era nas pessoas menos afortunadas. Quando Sete Caveiras conseguiu se desvincular de seu cárcere, fugindo para as pequenas cidadelas da região, pôs em prática seus dons de cura em favor dos adoentados desafortunados. Porém ao saber desses feitos, os senhores do império mandaram vasculhar toda a região, trazendo o Doutor Caveira capturado, e sem mesmo ser julgado, foi levado a fogueira.     

Temos vários outros casos e histórias de diversos trabalhadores pela caridade nessa linha dos Caveiras, mas deixaremos apenas esses como ilustração.    

Finalizando gostaria de frisar que essas Entidades maravilhosas de Luz, impõe um certo receio em algumas pessoas, mas a verdade é que esses grandes trabalhadores da seara do Pai, são Exús incompreendidos, pois sua aparência não representa a morte, mas sim a essência de todos nós seres humanos, pois sabemos que todos temos uma caveira dentro de nós. E essa simbolização representa que devemos nos livrar das coisas mundanas, e vivermos apenas pela nossa essência.     

Salve nossa maravilhosa linha dos Caveiras!    
Salve todos os Exús e Pombo Giras da Linha dos Caveiras!     Laroiê!!!

Buscando o Meu Orixá

“Quando eu andava pelo deserto, eu ouvi uma voz de longe me chamar...” Ele andava triste, por muito tempo buscava uma resposta para suas aflições religiosas. Temia que sua fé minasse a ponto de não mais bater cabeça... quando aconteceu este encontro.

Em meio ao perfume das ervas queimando na brasa, ao som dos atabaques, penumbra iluminada por velas, ele ajoelha e desaba:

- Vovô, já não agüento mais...

-O que te aflige meu fio?

- Vô, eu amo os Orixás, não tenho dúvida. Mas passei por tantas desilusões, fui enganado por pessoas que se diziam mestres no culto aos Orixás, ostentando todo tipo de títulos e artefatos. Sei que de certa forma aprendi coisas, mas no fim sempre uma desilusão...

- Continue meu fio... Em lágrimas ele recobra o fôlego e prossegue.

- Então meu velho, já deitei pro Santo, já assentei Orixás, já passei por muitos fundamentos quando eu cultuava o Orixá em outro segmento que não era Umbanda. Hoje não sei como fazer, de uns tempos pra cá começou meu Caboclo se manifestar, descobri que amo a Umbanda e este é meu caminho, o Caboclo disse que devo me fundamentar na Umbanda e devo assentar meus Orixás. Acontece que meus assentos foram confiscados pelo meu último Babalaô. Acho que meus Orixás estão bravos, estão me cobrando, tenho certeza!

- Meu fio, o que eles cobram?

- Não sei meu velho.

- Então vois zuncê vai pagar o que nem sabe que deve?

- Veja meu velho, como estou confuso. Acredito que preciso assentar meus Orixás para me acalmar. Como faço isso?

- Hehe... É meu fio, vois zuncê ta numa encruza mesmo! Intonce, aquiete seu coração, sinta este cheiro de ervas queimando e escuita com atenção o que este velho nego tem pra te fala...

- Meu velho, sou todo atenção, obrigado... – disse ele em prantos.

- Meu fio, os homens nessa terra tem uma necessidade constante de criar formas para expressar-se, neste caso, o nego vai se ater na religião. Por isso muitas são as formas de cultuar os Orixás, muitas mesmo, e é certo que muitas práticas, nem mesmo sendo tolerante às diferenças, é possível aceitar. Pois meu fio, quando o amor não for o caminho e o bom senso não for o limite, intonce muito problema vai acontecer. Sabe fio, esse velho conheceu os Orixás na antiga áfrica, e lá era tudo muito diferente, simplesmente diferente, não me arriscaria a dizer que melhor, pois assim o nego negaria a evolução constante. Este contato da minha alma com essa luz que chamamos de Orixás mudou a existência do nego, e de tanto que amo e sinto-me bem, após minha passagem para o mundo espiritual, insisti para que Olorum me deixasse perto dos seus Orixás. Sou feliz por isso fio, porque nosso Criador me ouviu. E foi assim que este velho aprendeu algumas coisas simples. Na carne este nego procurou muito os Orixás pela vida, por entre as coisas da Terra, minha Yá tinha ensinado que os Orixás estavam na Natureza, mas como eu não fugia à regra geral, entendia que essa natureza seria o plano físico da árvore, mata, água, fogo, hehe. Como que se eu tendo um pouco da água eu teria “aprisionado” o Orixá. Entendi já aqui no mundo espiritual fio que Orixá não está fora de nós, mas encontra-se dentro. Ele extrapola nossos poros e nos toma por inteiro quando entendemos e reconhecemos isso. Fio, Orixá é a essência de tudo o que você vê, escuta e sente, está muito além destes parcos sentidos humanos e muitíssimo além da nossa razão humana. Mesmo este velho tentando explicar Orixá, cometo um erro, pois sei meu fio, que Orixá não se explica, se sente. Mas como já disse, precisamos criar formas, então fio, que a sua forma seja a mais próxima do abstrato e do sutil, porque assim talvez esteja próximo do que seja Orixá. Por isso meu fio não se apegue tanto às formas de como cultuam ou assentam os Orixás, principalmente quando lhe ensinam métodos que não encontra aceitação no seu coração. Os Orixás falam ao coração, intonce é ele que você deve escutar para saber como encontrará os Orixás. Se, por exemplo, você qué assentar um Orixá das matas, vá numa mata, sinta o cheiro das folhas, toque elas, converse com o Orixá, cante, dance, colha as folha, cipó, raízes, terra, vai pegando um pouquinho do que tem lá, porque isso simboliza o tal Orixá fragmentado na natureza, com isso monte um espaço onde colocará isso e lá você reza pro tal Orixá. Entendeu meu fio?

Ele soluçando e enxugando as lágrimas com a voz embargada responde:

- Meu velho, vovô querido, muito obrigado. Agora sinto o Orixá dentro de mim. Entendi sua mensagem e não sei como agradecer.

- Fio não tem de quê. Agora vai ao encontro de si mesmo para encontrar os Orixás. Seja feliz meu fio por entender que da essência só bebe aqueles que amam simplesmente por não saber explicar. E sempre que irmanados os filhos deste plano estiverem, sem máscaras, sem receios, sem pretensões, lá, através do coração sincero de cada um, o Orixá se manifestará. Todos vocês são filhos de Orixá e adotados por todos os Orixás do Universo, somos filhos dos Pai e Mães Celestiais e nada existe sem a relação harmoniosa e contínua de todos Orixás num emaranhado perfeito. E se buscas o “teu” Orixá, então o encontra dentro de ti! Saravá!

E assim, com três estalos de dedo, o Velho sacudiu seu médium, retornando para sua Aruanda, uma sensação de paz profunda pairava no ambiente e o atabaque secou o couro, um silêncio se fez no ar e podia ouvir o crepitar do fogo nas velas, este silêncio eram os Orixás falando ao coração de cada um presente naquela gira (Vovô Benedito).

Uma Lição de Amor e persistência de Pai Cipriano e do Sr. Tatá Caveira

- Os valores e a responsabilidade da fé.

Muito eles nos dizem com o intuito de que possamos, através da repetição, pensarmos se houve aprendizado ou estamos de recuperação na escola da vida. Nos questionam quais são nossos objetivos? Quais são nossos reais compromissos? Quais são nossas responsabilidades?

Pai Cipriano diz que muito "Seu Cavalo" (médium) tem escrito e falado exaustivamente para todos, inclusive para a mídia sobre a sociedade que tem exacerbado valores materiais em detrimento dos valores espirituais. Que o homem tem brincado de Deus, adaptando a fé as suas necessidades e interesses, assumindo para si até mesmo o poder da vida e da morte de outro ser humano.

Será que estamos, de fato, perdendo nossos valores espirituais e deixando a materialidade ser o maior objetivo em nossas vidas? Estamos adaptando fé, a religião 'as nossas necessidades? Onde fica a fé, Deus, a irmandade entre os seres humanos, o amor ao próximo? Onde está nossa caridade, valores familiares?

- Deus e o servir: fé consciente.

Os homens tornam-se cada vez mais "poderosos" desagradando a Deus. Ruim para Deus, ruim para os homens.
Estamos colocando Deus, Orixás, guias em uma posição servil . Para muitos os guias estão trabalhando para o ser humano, e acreditam que eles precisam de nós para se manifestar, para evoluírem... Não deveria ser ao contrário?

Somos nós que precisamos servir a Deus, somos nós que devemos louvar e agradecer aos Orixás e guias pela sua presença em nossas vidas. Nós é que precisamos evoluir e servir. Mas fazemos de fato isso? Sabemos de fato agradecer a Deus, aos orixás e aos guias? Ou só lembramos deles quando estamos com problemas?

Pretos-velhos e sacerdotes não são bengalas. Isso é dito por eles constantemente, mas foi aprendido?

Aprendemos de fato que eles nos dão orientação espiritual, mas a caminhada, as escolhas, são nossas? Entendemos o livre arbítrio, compreendemos a importância de nossas escolhas, pensamos nas possíveis consequências de nossos atos e estamos prontos para assumi-las sejam estas boas ou ruins?

Pai Cipriano diz que a sociedade atual não difere da romana, com sua perda de valores... buscamos nas ofertas, oferendas, sacrifícios cruentos e na fé interesseira, a solução de nossos problemas. Porém, é preciso lembrar a importância das palavras (que saem de nossas bocas naquilo que prometemos, nas responsabilidades que assumimos). "João disse: ... no início era o verbo, o verbo era Deus, e o verbo se fez homem."

A intenção do pensamento se faz em palavras e atitudes; assim, não basta pedir ou pensar algo e fazer o contrário, pois a palavra do pensamento irá se materializar em nossas vidas, em nossos atos (nos bons e nos maus pensamentos).

Pai Cipriano diz e ensina, na sua forma de preto-velho, a importância da atitude, da obra, da pratica, e de uma fé consciente e inteligente, em que os guias e os Orixás não são "bocas famintas" ou "barrigas vazias" a procura de trocas, barganhas ou migalhas, em troca de oferendas quaisquer.

- Função da religião (não somente da Umbanda) em nossas vidas.

Ele nos lembra sempre: qual a função da religião, na ajuda e no benefício ao próximo; na disciplina, dignidade e no valor humano?

As entidades e guias não precisam nos satisfazer em tudo. Os assistentes nem sempre são crentes, às vezes vêm apenas pedir, outras vezes são crentes e durante a busca eles louvam e glorificam.

Louvar e glorificar é o objetivo e o papel do crente.
Terreiro é comunidade, Igreja significa comunidade, então todo terreiro é uma Igreja, uma assembléia, uma comunidade que entrar em comunhão para louvar ou entrar em consonância com as divindades na procura de ajuda (material e espiritual) e para pedir.

Pedir é algo que o homem faz desde que se tornou homem; o erro não está no pedir, mas sim, no que se pede. E o pedido não pode ir contra a consciência divina, a moral, os valores, o respeito ao livre-arbítrio de cada um. Se o pedido vai contra essa consciência divina, ai sim, perdemos o amor divino, o respeito ao significado da própria fé e da religião, sua entre a Deus.

Hoje o homem não faz a entrega (pede tudo e qualquer coisa, inclusive prejudicando ou tentando prejudicar o próximo), não se dá ao próximo, não compartilha. Rompemos o vínculo com o divino olhamos apenas para nós mesmos.

Foi avisado por Pai Cipriano para trocarmos o ver pelo enxergar, a necessidade do comprometimento com a fé e com o trabalho espiritual. Que o médium deve assumir deveres diversos e cabe ao sacerdote orientar, ensinar e cobrar a participação dos médiuns.

Não devemos confundir o que é responsabilidade, o que é comprometimento e o que é entrega.

Aos ignorantes não há compreensão do real valor de Deus. O mínimo necessário para que a manifestação de Deus seja válida e forte em suas vidas, tudo foi resumido ao dinheiro, ao bem-estar, a acumulação de bens... quem assim age e assim vive e consegue essas coisas, é valorizado e se diz que Deus o está ajudando.

Muitas pessoas desfrutam dessa visão, mas sem a responsabilidade para com o divino (independente até da religião que professam). Poucos adquirem a consciência do sacro-ofício, do se dar, do se importar uns com os outros. Veem apenas Deus por $$$.

Pai Cipriano diz que Deus começa e termina dentro de nós mesmos. Naquilo que pensamos em Deus e materializamos em nossas palavra e atitudes.

- Entrego, aceito, confio e agradeço.

É preciso saber vivenciar o que nos foi ensinado: entrego, aceito, confio e agradeço.

Nos é exemplificado que "o livro da vida" existe espiritualmente e nós somos este livro. Trazemos algumas páginas escritas por Deus, por nossas escolhas e atos; outras páginas estão em branco e que deveram ser preenchidas ao longo de nossa caminhada. A página seguinte pode estar escrita ou não. Sendo, 'as vezes, consequência do que nós escrevemos anteriormente, do como superamos e mediamos em nossos problemas.

O entendimento do "livro da vida" manifesta-se o Carma (acontecimentos que irão ocorrer: bons ou ruins) e do Darma (o modo, as circunstâncias pelas quais lidaremos com os carmas), para seguir nossa caminhada na vida e entre nossos semelhantes.
A religião irá nos ajudar; mas não está ali para resolver todos os nossos problemas. É através da religião que nos aproximamos do divino e conseguimos o equilíbrio para entender, aceitar e manifestar nossas próprias escolhas, sejam elas boas ou ruins.
Existe uma diferença entre o se dar e se achar merecedor, assim como o de ser merecedor. Esta diferença esta no que se aprendeu no caminho, na maturidade de saber que o material e o espiritual nem sempre se encontram.

- O que queremos e o que merecemos.

Será que sabemos de fato o que fazemos?

Não existem só caminhos bons. Independente quantos milagres tenham sido feitos, poucos irão compreender e aceitar que os problemas ocorreram e que estão vinculados as escolhas sejam elas boas ou ruins.

Às vezes somos avisados, mas, mesmo assim, negamos o ruim, pois só queremos o bom. Devemos entender que não existe bem sem mal, ou mal sem bem; o importante é aprender como lidar com ambos.

O grande fascínio de viver é saber viver. Buscando na religião a fonte de ajuda para degustar os momentos bons e ruins, aproveitando com plenitude a existência e sem amarguras, culpas e medos.

Quando não se tem tudo que se quer, devemos saber aproveitar o que se tem, do jeito que tem (seja pouco ou até o mínimo, seja bom ou ruim).

Saber avaliar ações e consequências torna mais fácil o trato com o ser humano. Daí a necessidade de se por valores a cada escolha, a cada momento.

O que vale são as conquistas verdadeiras. Lembrando que gentileza gera gentileza e devemos praticá-la. Um ato de agressão e ofensa não deve ser devolvido, mas entendido e levado 'a justiça (seja dos homens, seja a de Deus).

- Crença, fé, ação e trabalho.

Devemos questionar sempre: esta forma me atende? Estou louvando da forma adequada? Estou servindo a Deus ou me servindo dele? Estou ajudando aos meus semelhantes ou os usando para meu benefício? Estou me dando a uma fé inteligente ou sendo cega e buscando na fé benefícios próprios?

Sr. Tatá Caveira nos diz: fé sem trabalho não serve para nada. Sem trabalho esta fé não tem força. Sem consciência, valores, respeito, comprometimento, doação, inteligência, essa fé se torna banal e manipulável, interesseira e corrupta. Não agrada a Deus ou a seus representantes.

Aceitem se quiser o desafio do Sr. Tatá:

"-Vocês acreditam que basta somente a fé cega e tudo acontece? Pois bem, peguem um punhado de terra em sua mão e com sua fé cega façam crescer dali um Baobá. Se conseguirem não deixem de me mostrar. Pois aí acreditarei que só a fé cega basta."



Morre uma Escrava, Nasce uma Preta Velha


A senzala exalava o calor de um local superlotado, o suor de mais um dia brutal de trabalho, e o medo de novas ordens ou atitudes desmedidas.

O breu já se formava lá fora em noite sem lua, que prometia chuva. Nenhuma luz entrava pelas frestas da taipa desgastada pelo tempo e não se viam os animais que penetravam, insetos noturnos. Havia sempre o risco de uma cobra por baixo do tapete improvisado que protegia do chão áspero, feito de folhas de bananeira e palha de folha de cana. Por isso, sempre havia aqueles encarregados de bater todo o espaço com varas de bambu, para espantá-las. Um ou outro pequeno candeeiro, pois sinhozinho não gostava de gastar óleo de baleia com negros.

A senzala quadrangular era dividida em quatro setores: os homens de um lado, mulheres de outro, as mulheres com filhos recém-nascidos num terceiro canto, filhos estes de pele mais clara, e alguns até de olhos verdes. Os pretos e as pretas não podiam coabitar nem ter filhos, exceto se o “procriador” se destacasse muito pela força e inteligência. Não havia querer, não havia gostar.

No quarto último canto, os velhos, escravos e escravas juntos, já que não se reproduziam mais, haviam conseguido sobreviver à lida, aos maus tratos e à tristeza de ver seu povo sofrendo tanto.Traziam ainda a mente lúcida, sabiam receitas para curar todo o tipo de moléstias, sabiam rezar contra os males do corpo, e aguardavam a madrugada para entoarem seus cantigos nostálgicos, espantarem o banzo, e ensinarem aos outros suas lendas, suas origens e tradições. Alguns incorporavam velhos espíritos das florestas, dos cursos d’água, do fundo da terra, e rendiam seu culto de Fé a Olorum, Orixalá, Oxumaré, Obaluaiê, Iroko, Nanã Buruku e a Abikú, este último, pelo grande número de crianças que morriam. Colocavam em um pequeno pote de barro, o que tinham conseguido trazer escondido do parco almoço, um pouco de fubá, inhame, umas favas de feijão e enfeitavam com flores, completando com Amor e Devoção a singela entrega.

Também rendiam respeito ao Exu Kimbandeiro, pois na senzala só haviam negros bantos. Os caçadores de escravos haviam se espalhado de tal maneira que depois deles não houve mais os Tatás africanos, destruindo na África toda uma cultura milenar. Ou quem sabe era mesmo o momento dela migrar através do oceano para este Brasil que ainda não percebia o tamanho do horror que abrigava em seu generoso chão.

Havia ali naquele pobre albergue desguarnecido, uma velha escrava pequena, de passos miúdos, mãos mágicas que consertavam ossos quebrados, feridas abertas, corações partidos… Não tinha tido tempo de completar sua iniciação de Sacerdotisa em sua Terra, o Congo, quando foi aprisionada e separada dos seus. A solidão, a tristeza, a saudade, a perda das esperanças de ver suas matas novamente, não lhe haviam dobrado a cerviz. Do mesmo modo que era meiga, era firme, e se dedicava ao mundo espiritual incansavelmente, de alguma maneira conseguindo amenizar um pouco o sofrimento daqueles que estavam ali.

Ensinava que seu Povo era de caçadores, mas também guerreiros, e que mesmo desarmados e vencidos, cada negro ali tinha de manter a cabeça em pé, o pensamento focado na superação das provas físicas e a necessidade da solidariedade para obterem um pouco de Paz no seu dia a dia.

Ela já não tinha força para trabalhar no plantio da cana ou na colheita do milho, mas Sinhazinha mais de uma vez havia lhe chamado para curar seus filhos. Assim, ela passava seus dias curando, cantando, sorrindo com seus olhos enevoados pela idade, enquanto tratava das feridas dos que eram castigados.

Mas naquela noite sem Lua, com a chuva já encharcando o chão, deixando o sono de todos ainda mais desconfortável, subitamente o capataz da fazenda invade o local, destrancando e abrindo a porta com violência gritanto: “Um negro desgraçado fugiu, Uma fuga, uma vida.”! E agarrou o adolescente Jerônimo, que embora jovem era muito alto e forte, além de mostrar grande personalidade. Jerônimo iria pagar pela fuga. Com força descomunal para seu tamanho, na hora do derradeiro golpe do facão, Maria Quimbandeira desviou a arma certeira, salvando o menino, mas ela própria caiu, transpassada pela lâmina, e em pouco tempo sucumbiu, sem um gemido.

Acordou junto a sua floresta africana, em meio a uma linda dança de encantados. O grande Babá-Egun a ela se dirigiu lhe dando o comando de duzentos guerreiros e disse:

“ Babá Maria, sua missão na Terra findou, mas se inicia aqui uma muito maior, junto aos homens, embora nenhum deles poderá vê-la. Irás ainda por muito tempo vagar o Planeta, com a finalidade de proteger os homens do mal, e junto com outros milhares que estão fazendo o mesmo trabalho, até o dia em que poderás sentar à beira deste riacho e descansar. Agora não, que é tempo de muitas modificações e auxílio aos homens encarnados. Eis que sai de cena a velha Maria e surge a Vovó Maria da Pemba, sempre protegendo, amparando, fortalecendo e abençoando seus protegidos”.

Eis mais uma linda e comovente história de ascensão de uma alma, que se dedica até hoje, no silencio de outros planos a semear o Bem, amar incondicionalmente, a velar por aqueles que lhes afinizam, desmanchando demandas quebrantos e mazelas.

Salve Vovó Maria da Pemba! Salve a Sua Luz e a Sua Coroa! Adorei a Almas! Salve a África! Salve a Bahia! Salve o nosso Brasil!

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