Exus de Umbanda, de acordo
com o que apregoam a Umbanda e o Candomblé, são espíritos de
diversos níveis de luz que podem ou não incorporar nos médiuns de Umbanda, Jurema, Omolokô, Candomblé de Caboclo, entre outras religiões
afro-brasileiras.
Nos Candomblés puros, de nação,
como Jeje Mahi, Keto, Angola, Ijexá e Nagô, normalmente não há incorporação
de espíritos,
apenas manifestação de Orixás, que são entidades de altíssimo poder,
representantes das forças da natureza, e que ocupam o topo da hierarquia
espiritual dentro dos cultos de origem africana. A grande diferença do Orixá
para a simples entidade espiritual ou catiço reside no fato de que esses
últimos foram pessoas comuns, que viveram na Terra e no momento ocupam a
condição de desencarnados. Amanhã ou depois podem estar de volta à matéria,
conforme os desígnios de Deus. O Orixá é representante de uma força da natureza
e não está sujeito a esse ciclo de reencarnações. É um espírito maior.
Nos Candomblés de Caboclo, no
entanto, que não deixa de ser um tipo de Umbanda, podem ser encontradas casas
que adotem a incorporação de Exus, Pomba-Giras, Caboclos, Boiadeiros,
Marinheiros e outras entidades espirituais.
Todavia, o Orixá Exu, cultuado
somente nas nações de Candomblé,
é considerado uma divindade. Domina os Filhos de Santo que o carregam em seus
oris, mas esse domínio difere em muito daquela incorporação que ocorre na
Umbanda, onde se manifesta para dar consultas. O Exu de Umbanda é
uma entidade, o espírito de alguém que nasceu e morreu, portanto pertence ao
chamado povo de rua ou catiço.
Exu é denominação genérica.
Pode haver o masculino, chamado
simplesmente de Exu, e também o elemento do gênero feminino, chamado de Exu Mulher,
Pomba Gira, Pombogira, Pombajira ou Bombogira, que são corruptelas do
vocábulo Bandu Pambu Njila, que simplesmente significa Exu. Ela é uma
entidade que pertenceu, em sua última existência, ao gênero feminino, e que por
inúmeras razões foi agregada a uma das muitas linhas de Exus Mulheres e veio
trabalhar na Umbanda, assim como ocorre com os Exus masculinos. É, portanto, a
personificação feminina de Exu, por isso se reveste de uma auréola de mistério
e sensualidade que desperta a atenção de todos nas casas de culto das religiões
afro-brasileiras.
Quando incorporam, os Exus
masculinos costumam se caracterizar com capas, cartolas e bengalas.
As Pomba
Giras vestem saias rodadas, usam brincos, pulseiras, perfumes e rosas. Mas, não é
obrigatório que os médiuns se utilizem dessas vestimentas para a incorporação.
Cada terreiro trabalha de forma autônoma. Alguns centros uniformizam a roupa
dos médiuns; todos, por exemplo, vestem branco.
Exu, que entre outras coisas é o
Mensageiro dos Orixás no Candomblé, tem origem na religião africana, de modo
que apenas em um período posterior, na fase do sincretismo, foi reinterpretado
e até marginalizado nos cultos afro-brasileiros, notadamente na Umbanda. Aliás,
pela influência Católica na colonização e formação político-social do Brasil,
Exu foi associado com o demônio mesmo antes da fundação da Umbanda. Nessa
religião, entretanto, essa figura foi complementada como entidade maligna. Exu
se tornou, para quem ignora as características e os fundamentos das religiões
afro-brasileiras, o representante do demônio, do perigo e da imoralidade. Por
isso, parece que os primeiros umbandistas o associaram com africanos e escravos
rebeldes. Exu foi, portanto, segregado da Umbanda, e se tornou o legislador da
Quimbanda, do submundo. Mas muitos centros que não praticam a Quimbanda
permitem a incorporação de Exus. Muitos deles nem mesmo usam bebidas alcoólicas
e nem fazem quaisquer apologias a vícios. Nem todos são risonhos e brincalhões.
Muitos são sérios e exigem atitudes corretas de seus médiuns e de seus
consulentes.
Outra interpretação umbandista
coloca Exu na ordem evolucionista de precedência, conforme o modelo kardecista.
Ele é reduzido a um espírito menos evoluído, que, todavia, tem potencial para
evoluir e se tornar um espírito bom o que nem sempre parece ser verdade, pois
há muitos Exus altamente evoluídos. Alguns umbandistas distinguem entre Exu
pagão e Exu batizado, que se submeteu à doutrinação e encontrou o caminho certo
da escada da evolução. Em verdade, existem três patamares básicos onde se pode
posicionar um Exu: o primeiro é o nível de zombeteiro, no qual o Exu ainda não
se conscientizou de que deve buscar a, luz. É o Exu pagão. Quer apenas bebidas
alcoólicas e brincadeiras. Mas, ao final desse ciclo, enxerga que não vai
evoluir enquanto permanecer realizando tais proezas. E passa ao nível de Exu de
linha, trabalhando sob a supervisão de entidades que o fiscalizam e determinam
tarefas a serem cumpridas na espiritualidade. Ao final desse ciclo, é um Exu
Batizado ou Coroado. O terceiro nível é o de Exu Bará ou servidor de um Orixá.
Ao atingir esse nível, pode o Exu deixar de incorporar em médiuns e permanecer
apenas realizando tarefas na espiritualidade, sob as ordens diretas de seu
Orixá Regente. Essa distinção reflete algo do caráter original ambivalente de
Exu, apesar do rito de passagem do batismo, que define a distinção que é
certamente nova. Novamente esse batismo do Exu pagão tem sido interpretado como
uma expressão e aculturação e domesticação do mal, do perigo e da imoralidade.
Há ainda outra interpretação que
considera os Exus como entidades espirituais com a mesma evolução das demais
entidades, como caboclos e pretos-velhos, apenas posicionado em uma linha de
trabalho diferente e estigmatizada muitas vezes até mesmo pelos próprios
espiritualistas. Não existe, portanto, a noção de que eles são pouco evoluídos
ou que se dedicam à prática da magia negra. Exus evoluem, sim, mas dentro de
sua linha, como qualquer outra entidade. Por isso, existem os pouco evoluídos e
os que estão evoluindo, os que atingiram o nível de Exu batizado e já trabalham
dentro de uma linha que exige correção e boa conduta, e os Exus Barás ou
servidores de um Orixá.
Há quem creia que os Exus são
entidades (espíritos) que só fazem o bem e outros que creem que podem também
ser neutros ou maus. Dividem-se, de acordo com uma hierarquia espiritual, em
falanges, sub-falanges, grupos e sub-grupos. Observa-se que, não raro, alguns
terreiros de Umbanda, e mesmo de Candomblé,
não orientam seus médiuns quanto à natureza dessas entidades, o que é um erro
muito grave. Muitos confundem Exu com um obsessor ou com um espírito de baixa
evolução espiritual e moral, quando isso não é verdade. Essas entidades não
devem ser confundidas com os chamados obsessores. Ao contrário, ficam sob o seu controle
os espíritos mais atrasados na evolução, que são por eles orientados para que
consigam evoluir através de trabalhos espirituais feitos para o bem.
Exu Meia-Noite
O poder de se comunicar confere a
ele também o oposto, a possibilidade de desligar e comprometer qualquer comunicação.
Se possibilita a construção, Exu também permite a destruição. Esse poder foi
traduzido mitologicamente no fato de habitar as encruzilhadas, cemitérios,
em suma, as passagens. Portanto, os diferentes e vários cruzamentos entre
caminhos e rotas lhe faz o senhor das entradas e
saídas. É o dono dos caminhos, o que abre e fecha o acesso do ser humano às
fortunas e à felicidade.
Há algumas diferenças na maneira
de conceber o Exu no Candomblé e na Umbanda. No
primeiro, é como os demais Orixás, uma
personalização de fenômenos e energias naturais. O Candomblé considera que as
divindades, ou seja, os Orixás, entram em transe nos médiuns, intitulados
cavalos ou aparelhos, mas não há consultas. Apenas se manifestam nas festas
devidamente caracterizados e paramentados. Já na Umbanda, o Exu é uma entidade
que normalmente incorpora e promove consultas incorporado em seu médium, como outras
entidades, tais quais, os caboclos, pretos-velhos, crianças, os falangeiros de orixás, também denominados
mensageiros, e outras várias entidades.
A Umbanda considera os Exus como
entidades que buscam, através da caridade, a evolução espiritual. Em síntese, o
grande agente mágico do equilíbrio universal. Também é o guardião dos trabalhos
de magia,
pela qual opera com as forças do astral. E também são considerados
"policiais", "sentinelas", "seguranças" que agem
pela Lei, no submundo do "crime" organizado e principalmente
policiando seu médium médium no seu dia a dia. As falanges de Exus sempre estão
nas zonas consideradas infernais, embora delas não façam parte. Com efeito,
realizam os seus trabalhos de guarda em todas as partes onde são necessários.
Certos Exus guardam entradas de hospitais, necrotérios e cemitérios para
impedir que kiumbas, espíritos sem evolução, de natureza vampiresca e
zombeteira, se alimentem do duplo etéreo dos que estão à beira da morte ou
daqueles que desencarnaram recentemente. A força vital permanece nos corpos sem
vida e não deve ser sugada para alimentar almas que desejam praticar o mal.
Esses espíritos devem ser impedidos de qualquer maneira. Participam também do
resgate de almas localizadas em zonas inferiores, os chamados umbrais.
O plano astral também é morada de
miríades de espíritos que perseveram no mal. Alguns deles estabelecem uma
prática na espiritualidade de obsidiar desencarnados e até encarnados. O
trabalho dos Exus é não permitir que consigam influenciar espíritos e pessoas
vivas a ponto de elastecer seus tentáculos e criar verdadeiras frentes de
maldade espiritual e material. Esse combate é árduo e permanente. Os Exus
chefes de falange, geralmente Coroados ou Barás de Orixá, podem ser equiparados
a verdadeiros generais que promovem vigília e combate, além do comando de
inúmeras falanges.
Mesmo os chamados chefes também
obedecem à severa hierarquia dos comandos do astral.
Os Exus obedecem, ainda, a um
divisão maior, que os aponta como Exus da estrada, da encruzilhada, do
cemitério, da beira do mar e das cidades.
Esses espíritos se
utilizam de energias mais "densas" ou materiais. Nota-se que
essas entidadespodem
realizar trabalhos benignos, como curas, orientação em todos os setores da vida
pessoal dos consulentes e praticar a caridade em geral. A condição de Exu para
um espírito é transitória, podendo este, uma vez redimidas suas dívidas perante
a Lei Divina, reencarnar, resgatar o restante de seus carma e
seguir escalas mais elevadas de evolução.
Os trabalhos malignos não são acordos
efetuados com os Exus, mas sim com Kiumbas, que agem
nas sombras e não estão sob a orientação de nenhum guia, mas que podem se fazer
passar por um, atuando em terreiros que não praticam os fundamentos básicos
da Umbanda,
que são a existência de um Deus único, crença em entidades espirituais em evolução,
Orixás que formam a hierarquia espiritual, guias mensageiros, na existência
da alma, na
prática da mediunidade sob forma de desenvolvimento espiritual
do médium,
além da caridade gratuita a quem necessita. O objetivo é sempre proporcionar
vibrações positivas através da fé, amor e respeito ao próximo. Alguns centros
ditos de Umbanda se servem apenas para ganho pessoal do seu pai-de-santo ou
sacerdote. Reuniões em que há a incorporação de exus, por exemplo, não pode
haver nenhum tipo de cobrança ao visitante, seja de dinheiro ou de qualquer
outra natureza.
Os Exus infelizmente são
confundidos com os kiumbas, que são espíritos trevosos ou obsessores que se
encontram desajustados perante a Lei Divina. São responsáveis pelos mais
variados distúrbios morais e mentais nas pessoas, desde pequenas confusões, até
as mais duras e tristes obsessões. Comparados ao Diabo dos
Católicos, são espíritos que se comprazem na prática do mal, apenas
por sentirem prazer ou vingança, calcados no ódio doentio. Aguardam, portanto,
que a Lei os recupere da melhor maneira. Vivem no baixo astral, onde as
vibrações energéticas são pesadas. Trata-se de uma enorme egrégora formada
pelos maus pensamentos e oriundos dos espíritos encarnados e
desencarnados. Sentimentos baixos, tais Quais, paixões desenfreadas, ódios, rancores, raivas, vinganças, sensualidade exagerada
e vícios de
toda estirpe alimentam essa faixa vibracional da qual os kiumbas se comprazem,
já que se sentem mais fortalecidos com a energia negativa que por eles é
absorvida.
O verdadeiro Exu é uma entidade
guardiã empenhada em uma missão maior, por isso não faz mal a ninguém. Seu
objetivo é auxiliar as pessoas com fé e respeito. Alguns exus foram, quando
reencarnados, pessoas importantes, como políticos, médicos, advogados,
industriais, mas também trabalhadores, pessoas comuns, padres, escravos,
saltimbancos que cometeram alguma falha e escolheram ou foram escolhidos para
assumir essa roupagem espiritual com o fim de redimirem seus erros pretéritos.
Outros são espíritos mais evoluídos que optaram por orientar os seus médiuns.
Em seus trabalhos de magia, o exu corta demandas, desfaz trabalhos
malignos, feitiços e magia
negra, efetuados por espíritos sem evolução. Ajudam a limpar ambientes, retirando
os obsessores e os encaminhando para à luz ou para que possam cumprir suas
penas no astral inferior.
Uma verdadeira casa de caridade é
sempre reconhecida pela gratuidade dos serviços prestados a quem procura ajuda
em um terreiro de Umbanda.
Alguns espíritos, que usam
indevidamente o nome de Exu, procuram realizar trabalhos de magia dirigida
contra os encarnados. Na realidade, quem está agindo é um espírito atrasado. É
justamente contra as influências maléficas, o pensamento doentio desses
feiticeiros improvisados, que entra em ação o verdadeiro exu, atraindo os
obsessores ainda ignorantes e procurando trazê-los para suas falanges que
trabalham visando à própria evolução.
O chamado Exu pagão é
tido como aquele sem luz, sem conhecimento e pouca evolução, ainda não pronto
para o despertar à caridade.
Já o exu batizado é
uma alma já sensibilizada pelo bem que já evoluiu e trabalha para o próximo,
dentro do reino da Quimbanda, por ser uma força ajustável ao meio podendo
intervir como um policial que penetra nos reinos da marginalidade para fins de
resgate e limpeza.
Não se deve, entretanto,
confundir um verdadeiro Exu com espíritos zombeteiros, mistificadores,
obsessores ou perturbadores, que recebem ou deveriam receber a denominação de
kiumbas e que, não raro, mistificam e iludem os presentes, se passando
por guias.
Para evitar essa confusão, não se
concede aos chamados exus pagãos a denominação de exu,
classificando-os apenas como kiumbas. E reserva-se para os
ditos exus batizados e coroados a denominação
de exu.
Os exus mais evoluídos são
chamados de Exus coroados e, acima desse nível, os Exus Barás. Dentre esses,
podem ser citados o Exu Rei, Exu Marabô, Tranca Rua das Almas, Tranca Rua da
Praia, Tranca Rua do Luar, Tranca Rua do Embaré, Exu Tiriri de Umbanda, Exu
Tiriri Lonan, Exu Caveira, João Caveira e Tatá Caveira, Exu do Lodo, Exu das
Sete Encruzilhadas, Exu Pimenta, Exu Porteira, Exu Calunga, entre outros. As
Pombas Giras mais conhecidas são Maria Padilha, Maria Molambo, Pomba Gira
Rainha, Rosa Caveira, Sete Saias e Pomba Gira Cigana.
A evolução é uma regra constante
no Universo. A Criação Divina nunca cessa. Não ficou restrita - e nem poderia -
ao Fiat Genesíacorelatado na Bíblia. A Criação ainda prossegue,
juntamente com a evolução espiritual de cada um, nesse caminho que as criaturas
trilham na direção de seu Criador. Por isso, os Exus também evoluem. Muitas
entidades dessa linha, outrora presentes nos terreiros, hoje já não são mais
encontradas ou se encontram em um processo de gradativo desaparecimento. O
primeiro caso que salta aos olhos é o do Exu Seu Sete, Rei da Lira, famoso nos
anos 70 do século XX por participar de programas de televisão nos quais fez
quase todos os presentes entrarem em transe. Houve casos de pessoas que
assistiam aos programas em suas residências e ali simplesmente incorporaram.
Dizem que até dona Cyla Médice, primeira dama do Brasil, recebeu uma entidade
diante do televisor e ao lado do Presidente da República. Seu Sete da Lira não
tem sido visto em terreiros há pelo menos uns 40 anos. O mesmo ocorre com o Exu
Aleijadinho, que há décadas não é localizado em qualquer casa de Santo. A mesma
sorte seguem o Exu Toquinho, o Exu Campina e o Exu Correnteza, há muito
desaparecidos dos terreiros. Tranca Rua do Omulu das Vinte e Sete Magias também
é outra linhagem praticamente extinta nas casas de umbanda, assim como a da
Pomba Gira das Sete Cobras.
O que pode ter ocorrido com tais
entidades?
Evoluíram.
Ou os membros de suas inúmeras
falanges tornaram-se Barás e não mais regressaram aos terreiros, ou
reencarnaram para acertar eventuais débitos na Terra e depois regressar à
espiritualidade para prosseguir com sua evolução, sob a forma de Exu ou de
outra entidade.
Assim deve caminhar a vida,
inclusive a dos Exus...
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