Não praticar a mediunidade, dentro do
“compromisso” assumido no mundo espiritual, acarreta doenças e desajustes
espirituais?
Outro mito muito popular no imaginário das religiões
mediúnicas (notadamente o Kardecismo e a Umbanda), assim como o mito da
tal “Mediunidade Inconsciente”, conforme já o tratamos em outro texto,
essa questão do não uso (ou do afastamento da prática) da mediunidade gera
muitas dúvidas e conflitos de ordem psicológica em tantas pessoas que, apesar
de desejarem uma maior aproximação com o meio religioso kardecista ou
umbandista, veem-se tomadas por reticências e por resistências. Naturalmente,
essa compreensão - um tanto castradora, diga-se de passagem - remete a uma
certa sensação ou impressão de “prisão” que vincula o indivíduo, “ad
eternum”, à necessidade de “praticar a caridade” por meio da mediunidade e
servindo aos “espíritos, Guias e Mentores”.
Então, se eu não aceitar para mim a prática mediúnica, eu
terei problemas na minha vida? Ou, se após eu ter aceito a mediunidade,
desejar, por circunstâncias as mais diversas (desencanto com a religião,
mudança de religião, ir morar no exterior onde não há terreiros e centros
espíritas, motivos profissionais, de saúde, familiares, etc.) afastar-me, mesmo
que temporariamente, eu terei problemas? Minha vida vai “andar pra trás”?
Absolutamente, não.
Até por que precisamos pensar seguindo uma linha de
coerência, não é?
Como é que podemos dizer que o trabalho mediúnico é voltado
para a tarefa de promover a Caridade, o Amor ao Próximo, o Bem Maior, o
Consolo, a Esperança, a Orientação Saudável e Desinteressada, etc...e estarmos,
nós mesmos, que nos dedicamos a esse “trabalho”, presos a algemas das quais não
podemos nos libertar? Será que Espíritos de Luz, Mensageiros da Paz e do Amor,
nos querem presos a eles, como escravos algemados a um “contrato assinado” em
um momento que sequer podemos nos lembrar pois segundo dizem, seriam
compromissos assumidos antes de reencarnarmos?
Estarmos ligados a tarefa da Caridade significa
participarmos e compartilharmos ativamente da prática dos princípios do
Evangelho do Cristo. É “estarmos em Cristo”, conforme Ele mesmo houvera dito.
E, então, estar em Cristo é estar preso, amarrado e destinado a sofrer, caso eu
deseje outra coisa para a minha vida? Claro que não.
Todos esses mitos surgiram no passado cada vez mais
distante, em que havia muito pouco conhecimento acerca da Mediunidade, dos seus
efeitos, dos proveitos que dela podemos usufruir, não só para contribuir com a
ajuda ao próximo, mas também para nosso próprio benefício, em vista de como o
exercício da mediunidade e da prática religiosa pode influir saudavelmente em
nosso organismo físico e em nosso estado psicológico. Já existem vários
estudos, inclusive, realizados por universidades do Brasil e do Exterior a
respeito dos benefícios da prática mediúnica.
Acredito que tudo evolui. Aquilo que no passado se
encontrava na sombra da crendice, pela limitação do próprio conhecimento dos
homens, vem, aos poucos, se iluminando, se esclarecendo, devido a evolução do
conhecimento a respeito das questões espirituais. Isso ocorre tanto da parte do
homens que passaram a estudar esses temas, mas também por parte dos próprios
Mentores que trazem conhecimentos novos e elucidativos a respeito da
mediunidade.
Devemos entender que a Mediunidade não é um “dom”, assim
como também não é um “estigma”. Não é uma graça que nos deixa melhor do que os
outros, nem uma punição que nos rebaixa a condição de escravos do mundo
espiritual.
Portanto, devemos passar a compreender que a Mediunidade é
uma Faculdade Mental. É um recurso extremamente valioso que temos à nossa
disposição para ampliarmos, por meio da sua prática consciente e bem orientada,
o nosso discernimento a respeito de nós mesmos, nosso auto-conhecimento, e também
ampliarmos nossa visão a respeito da Vida e da realidade que nos cerca. Serve
para deixarmos de olhar somente para nós mesmos, e passarmos a reconhecer os
outros, as dores dos outros, as aflições dos outros, as doenças dos outros, as
limitações dos outros e verificarmos que, assim como nós, existem outras
pessoas que também sofrem, têm dúvidas, conflitos, limitações e que devemos nos
ajudar, mutuamente, para que consigamos passar por nossas provas. A mediunidade
nos ajuda a entendermos o quanto ligados e dependentes (não escravos) uns dos
outros nós somos.
Até por que nós só podemos ter uma atitude verdadeira de
compaixão, caritativa, de companheirismo, etc., quando nos reconhecemos
exatamente na mesma condição que os outros. Se nos julgamos acima, por que
“somos médiuns”, nossa atitude será de orgulho somente ou, no mínimo, de
indiferença.
Outra Faculdade Mental que tem os mesmos efeitos que a
Mediunidade, no que se refere ao auto-conhecimento, discernimento das conexões
que temos com a vida, etc., é a Meditação.
Então, a Mediunidade é um recurso que nos está à disposição
para utilizarmos, caso seja de nossa escolha. Mas, e se eu não quiser me servir
da Mediunidade?
Bom, primeiro precisa se considerar o seguinte ponto. Você
sente sinais da mediunidade em você? Já teve visões, sensações características,
ouviu algo incomum, pressentiu acontecimentos, se sentiu doando energias para
alguém ou algo do tipo, já se sentiu com a personalidade alterada? já foi, de
fato, tomado para um impulso de comportamento alheio à sua vontade? Se já, com
que frequência? Por que, também tem isso, muita gente acha que é médium por que
alguém falou que ela era médium...mas a pessoa nunca sentiu nem um arrepio que
fosse, nem de frio...
Se a pessoa não utiliza o recurso da mediunidade, ocorre da
mesma forma que uma pessoa que tem audição normal e coordenação motora
adequada, mas que não se interessa por aprender música, por exemplo. Ela
continua ouvindo e conseguindo controlar seus braços, mãos, pernas, sua voz,
etc. Mas ela não é capaz de tocar um instrumento musical, de ouvir uma música e
conseguir distinguir o som próprio de cada instrumento, não é capaz de perceber
se o cantor desafinou, se tem um instrumento fora de compasso, etc. Ou seja,
ela tem uma percepção mais ou menos limitada em relação a música. Ela entra em
contato com a música, mas sua percepção fica limitada. Ela pode até ficar com
dor de cabeça por causa da música que ela está ouvindo, mas como não aprimorou
sua sensibilidade, ela não sabe dizer ao certo por que está com dor de cabeça
ou porque quando ouve aquela música se sente mais leve, mais feliz, mais
serena, etc. Da mesma forma, se ela não aprimora sua sensibilidade espiritual,
por meio do exercício mediúnico, ela entra em contato com o mundo espiritual
(por que nós nos encontramos envoltos pela realidade espiritual), sente a sua
influência, positiva ou negativa, mas também não é capaz de distinguir aquilo
que a está fazendo bem ou não. Ela entra num ambiente, se sente mal, mas não
sabe dizer o porquê. Ela fala com uma pessoa, se sente bem, mas não sabe
identificar, etc..
Há uma outra situação que é a de quando a pessoa tem uma
sensibilidade já aguçada, seja porque ela floresceu na pessoa em dada fase da
vida, ou por que a pessoa já vem exercitando a mediunidade e aí, por diversas
situações possíveis, ela deseja se afastar desta prática.
Nesse contexto, precisamos compreender que a mediunidade
funciona em nós como algo dinâmico e pulsante. A mediunidade movimenta nossos
conteúdos psicológicos, aguça nossa sensibilidade, amplia nossas percepções. É
como uma correnteza que flui com intensidade e que precisa ser canalizada, caso
a pessoa se decida a mudar de rumo. Dessa forma, é muito comum a pessoa com uma
sensibilidade espiritual, mas fora da prática mediúnica, destinar suas energias
para a área das artes, da pintura, da poesia, da música, da atividade
esportiva, da medicina, da educação, da psicologia, da ação solidária, da
Meditação, da Yoga, do Tai Chi, do Johrei, etc.
Da mesma forma, quando transferem-se de religião, as
pessoas podem aplicar a sua sensibilidade em atividades pertinentes que são
executadas neste novo ambiente em que passam a frequentar. Participam de
corais, de grupos de oração, de grupos de meditação, grupos de novenas, etc. A
sensibilidade da pessoa irá encontrar uma forma de se expressar, mas,
naturalmente, o canal mediúnico irá se “fechando”, pois é como se, podendo
enxergar, a pessoa não o quisesse e insistisse em manter seus olhos vendados.
Ou, podendo movimentar um braço, ela o amarrasse. Aos poucos, começa a ocorrer
a anulação daquela função já adquirida, entretanto, no caso da mediunidade, sem
o prejuízo para o organismo, conforme aconteceria com uma pessoa que se cegasse
ou atrofiasse um braço.
Quando tratamos do termo “compromisso mediúnico”,
precisamos compreendê-lo como uma escolha consciente, tomada após um processo
de amadurecimento da pessoa, a qual se decide por seguir um caminho de busca
espiritual. E, naturalmente, como qualquer compromisso que assumimos, hoje,
agora, nesta vida, conscientemente, nós não podemos simplesmente “virar as
costas” quando mudamos de ideia, nos arrependemos, ou o desejamos, seja por
qual motivo for. Mas isso não é um problema da mediunidade. É um problema da
Vida. O que vai imperar nesse caso é a Lei da Consciência. As Leis de Deus
estão inscritas na Consciência de cada um. Por mais que a pessoa tente
disfarçar, lá no fundo tem uma “voz” que a lembra das escolhas que fez.
Nós podemos simplesmente virar as costas para o nosso trabalho
profissional e ir embora, por mais descontentes que estejamos?
Nós podemos simplesmente virar as costas para a nossa
família e “sair andando”, como se as pessoas que estão em nosso lar não fossem
nada?
Nós podemos abandonar um companheiro, um amigo, um(a)
namorado(a), após termos nos vinculado a eles sem maiores
comprometimentos?
Nós podemos simplesmente virar as costas para a religião
que escolhemos seguir, sem nos achar compromissados com nada nem ninguém?
Qualquer pessoa que esteja de posse da sua saúde
psicológica sabe que não podemos fazer isso. A não ser pessoas que estão
doentes psicologicamente é que são capazes de virar as costas para os
compromissos que assumem e simplesmente abandoná-los sem a menor “dor” na
consciência.
Todo compromisso assumido gera responsabilidade. Isso é da
Lei da Vida.
Toda Responsabilidade reconhecida se instala na Consciência
de todo Ser Humano.
Assim, quando o indivíduo deseje se desvincular da
mediunidade, o que ele deve, primeiramente, é saber se conduzir éticamente.
Exponha o seu desejo, comunique sua vontade e peça a licença para se afastar,
com maturidade, para os responsáveis pela Casa que frequenta. Tenha em mente
que os maiores laços que nós construímos na Vida, são os laços humanos, e não
podemos nos desfazer das pessoas como se elas não tivessem significado nenhum.
Esteja aberto para ser compreendido, ou não, pois da mesma forma que você, a
pessoa do outro lado também é um ser humano e nem sempre toma a melhor atitude
para todas as situações. Procure não falar mal do lugar que o acolheu, tão
pouco das pessoas que seguiram ao seu lado, durante o tempo em que lá
permaneceu. Não tome decisões guiado pela emoção do momento. Ore, reserve para
si alguns dias para refletir a respeito. Veja se são justas a suas alegações e
coerentes os seus motivos.
Digo isso porque é da Lei, pela sua própria Consciência,
que a pessoa que não sabe se conduzir e rompe seus laços com violência, com
maledicência, com ingratidão, com abandono, etc., seja colocada novamente
diante daqueles a quem se vinculou para resgatar com harmonia e maturidade os
deveres que assumiu espontaneamente. E, ao se recusar e insistir nesta postura,
a própria consciência da pessoa vai colocando-a em situação de sofrimento, de
angústia, por que não se permite reconhecer que não soube comandar os seus
passos pelos caminhos que deveria trilhar numa experiência de felicidade e de
gratidão.
E isso, como o dissemos, não é uma consequência da
mediunidade ou uma punição dos Guias e Mentores de Luz. É uma consequência que
vem pela nossa própria consciência, seja em qualquer lugar ou com qualquer
compromisso sério que assumimos ao longo da nossa vida. Saiba que não é o fato
de mudar de religião ou desejar se desvincular da mediunidade que o fará
sofrer, mas é a maneira pela qual você se conduzirá neste processo.
Gratidão sempre e que o Mestre Jesus nos abençoe!
Ilé Yorimá*
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